segunda-feira, 2 de março de 2015

dois poemas do século passado

Pequeno-gigante pequeno

Há lodo no cais
(é também título de um filme)
e também nos meus olhos
e quando gigante pensava ser
em pigmeu me tornaram.
Mas pequenina peça
em engrenagem tamanha
a poderá emperrar para sempre,
ou até parar.

Cadimo expediente

Irmãos universais do meu grupo.
Sinto-me cada vez mais inadaptado
em face do viver inadequado
de muitos mortais.
Só vejo ambições desmedidas,
abissais opiniões opostas
e hipocrisia corroendo
o nosso dia-a-dia.
A corrupção traja vestes angelicais;
valores, só os do capital;
virtude, honradez
e outras de igual jaez,
são palavrões obscenos.
Pôncio Pilatos é ‘métier’
profusamente espalhado
por salões, banquetes, recepções,
gabinetes, assembleias, diversões,
onde ‘fina fauna’ disputa,
do poder,
os cadeirões e, por fim,
os dobrões.

in O LIVRO EM BRANCO – páginas 108 e 109 – coligido até outubro de 1988

José Amaral


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