segunda-feira, 2 de março de 2015

Roteiro não imaginário


Nasci no fim do outono
de uma guerra mundial.
Passei uma pré-infância menos mal,
mas fui um infante pouco alegre.
Na cidade pouco vi da sua ‘flora-fauna’
e fui apanhado pelo levantamento armado
nas ex-colónias.

Companheiros,
arregimentados ‘voluntários’
de uma vida militar,
quase todos vimos a ida
e muitos não lograram voltar.

Caldas da Rainha,
Póvoa de Varzim,
RC6 e Quartel General, no Porto,
e Adidos, na Calçada da Ajuda, em Lisboa,
foram etapas antes do meu embarque.

Na Guiné:
Bissau, Bula, Teixeira Pinto,
Bachile, Cacheu, Bafatá, Contuboel,
Sonaco, Sumbundo e Bissau, finalmente,
foram as estadas tropicais obrigatórias.

Também toquei terras cabo-verdeanas.
Mindelo e Praia foram as terras-moradas
da minha efémera passagem.

Calamidades vacinaram-me,
dando-me couraça natural
desta vivência existencial.

Passei também pelo Funchal,
gosto bom, especial,
e, depois, após dois longos anos,
o regresso, quase sem danos.

In O LIVRO EM BRANCO – página 107 – compilado até outubro de 1988


José Amaral

Sem comentários:

Enviar um comentário

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.