Reflectindo só um pouco, quase nada, reflectindo muito
levemente sobre a condição humana, não é surpreendente adivinhar, no passar dos
milénios, uma luta constante entre poderosos e oprimidos (para simplificar).
Dos tempos pré-históricos não temos grandes notícias (o
termo "pré-história" explica a ausência de dados mais ou menos
fiáveis) mas basta avançar um nadinha e começamos a encontrar provas da
existência dos ricos, dos muito ricos, dos riquíssimos, dos riquérrimos e dos deuses
na Terra. Umas dúzias de personagens a dominar multidões imensas de milhões e
milhões de escravos, hordas de trabalhadores manuais, gente miserável ofuscada
pelo brilho de existências gloriosas. Intelectuais famintos prontos a fazer o
inventário dos bens do senhor, artistas incentivados a escrever poemas épicos
sobre a grandeza incomparável do Chefe.
O tempo vai rodando e as personagens mudam de aspecto, o
cenário transforma-se ao sabor do que é moderno em cada época, mas as relações
entre os poderosos e os seus servos parecem permanecer teimosamente inalteradas.
Nós vivemos tempos democráticos, o mais parecido com o
tempo do vinho e das rosas que a Humanidade jamais viveu! Então eu sonho, tu
tens ilusões, ele sente o peito inchar de esperança, uma enebriante vertigem faz-nos
acreditar. Queremos acreditar na vitória, a mudança parece ir acontecer. Mas logo
após, pouco tempo corrido, eis a realidade iludindo mais uma vez a verdade.
Regressa a Crise, o cenário cai. Mais uma vez percebemos claramente a estrutura da coisa, o
esqueleto do mundo: lá está o faraó, o imperador, acenando, o rei absoluto, o senhor presidente
do conselho de administração, a excelentíssima esposa sentada no topo da
pirâmide constituída por uma imensidão de gente que se agita e esperneia, por aí abaixo, qual montanha de
insectos impacientes.
carta enviada à Directora do Público
carta enviada à Directora do Público
Sem comentários:
Enviar um comentário
Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.