quarta-feira, 20 de maio de 2015

A pirâmide

Reflectindo só um pouco, quase nada, reflectindo muito levemente sobre a condição humana, não é surpreendente adivinhar, no passar dos milénios, uma luta constante entre poderosos e oprimidos (para simplificar).

Dos tempos pré-históricos não temos grandes notícias (o termo "pré-história" explica a ausência de dados mais ou menos fiáveis) mas basta avançar um nadinha e começamos a encontrar provas da existência dos ricos, dos muito ricos, dos riquíssimos, dos riquérrimos e dos deuses na Terra. Umas dúzias de personagens a dominar multidões imensas de milhões e milhões de escravos, hordas de trabalhadores manuais, gente miserável ofuscada pelo brilho de existências gloriosas. Intelectuais famintos prontos a fazer o inventário dos bens do senhor, artistas incentivados a escrever poemas épicos sobre a grandeza incomparável do Chefe.

O tempo vai rodando e as personagens mudam de aspecto, o cenário transforma-se ao sabor do que é moderno em cada época, mas as relações entre os poderosos e os seus servos parecem permanecer teimosamente inalteradas.

Nós vivemos tempos democráticos, o mais parecido com o tempo do vinho e das rosas que a Humanidade jamais viveu! Então eu sonho, tu tens ilusões, ele sente o peito inchar de esperança, uma enebriante vertigem faz-nos acreditar. Queremos acreditar na vitória, a mudança parece ir acontecer. Mas logo após, pouco tempo corrido, eis a realidade iludindo mais uma vez a verdade.


Regressa a Crise, o cenário cai. Mais uma vez percebemos claramente a estrutura da coisa, o esqueleto do mundo: lá está o faraó, o imperador, acenando, o rei absoluto, o senhor presidente do conselho de administração, a excelentíssima esposa sentada no topo da pirâmide constituída por uma imensidão de gente que se agita e esperneia, por aí abaixo, qual montanha de insectos impacientes.

carta enviada à Directora do Público

Sem comentários:

Enviar um comentário

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.