segunda-feira, 25 de maio de 2015

Eleições: a medonha maravilha

Há medo em Portugal. Hoje. Receamos o desemprego (eu que o diga), a perda de apoios sociais, os salários diminutos que mal pagam contas de ir sobrevivendo. Há medo porque a pobreza é crescente e, pior, a sociedade está mais e mais desigual. Há medo porque vivemos na gritante situação de sermos o país da União Europeia com o maior fosso entre os rendimentos dos ricos e dos pobres. Pior. Há medo porque os políticos e economistas engravatados nos dizem, todos os dias, que é nestas condições que teremos que viver nas próximas décadas, pretendendo fixar a nossa carne à miséria com longos pregos.
Dizia o padre Fernando Calado Rodrigues, em recente artigo de jornal, “se os pobres votassem…”. Digo eu, se os pobres, os desempregados, as vítimas de violência, os velhos, os jovens, os religiosos e os ateus votassem… Se todo o cidadão encarasse o voto como a derradeira obrigação cívica da sua vida em sociedade… Se cada um de nós, em benefício próprio, pretendesse usar essa medonha e maravilhosa arma de alterar o mundo… Se o povo, entendido como todos os cidadãos deste país, votasse, então as portas da democracia poder-se-iam abrir para novos futuros e novas construções sociais, bem diferentes das ideias decadentes que os grandes partidos da nossa democracia lançam à luz.
Não podemos negar a importância histórica do PS ou do PSD, na construção dos subsídios sociais, do ordenado mínimo, do sistema nacional de saúde, do ensino universal garantido pela escola pública, mas esse ciclo esgotou-se há, pelo menos, vinte e cinco anos. Dos anos noventa para cá, temos assistido a dois partidos manipuladores que gerem a sua situação e dão sombra a todas as negociatas estatais que possamos imaginar. Não é apenas José Sócrates na cadeia que o demonstra, os casos conhecidos são às dezenas e os por conhecer serão às centenas. Fora a colonização que estes dois partidos promoveram em todos os altos e médios cargos da função pública; mais as câmaras com os seus sacos azuis, destinados a financiar os partidos. Corrupção.

Os prejuízos para a sociedade portuguesa estão à mostra, tão evidentes que até doem. O uso do Estado para defender os grandes e pôr os descontentes na ordem. Ainda assim, os portugueses têm medo e paralisam perante este sentimento. PS e PSD gostam de iludir as pessoas com o S do socialismo, e vão dizendo que as eleições estão decididas à partida. No fundo, o tango PS e PSD já dura há quarenta anos e talvez possa durar um bocadinho mais. Ou não. No conjunto dos dois partidos, neste século, e para quatro eleições legislativas, passaram de 78%, em 2002, dos votos para 66.71%, em 2011. O método de Hondt e os círculos eleitorais têm permitido aconchegar as perdas, porque administrativamente os grandes são beneficiados, basta ver que nas últimas eleições haveria menos oito deputados destes dois partidos se a representatividade fosse direta. Agora imaginem que as pessoas decidem votar e dizem que já não toleram mais que dois partidos decadentes governem em seu nome. Só não acontecerá assim se boa parte da sociedade portuguesa decidir não votar nestas próximas legislativas. Aí as pessoas não precisarão de ter medo do futuro, porque continuarão a viver numa sociedade injusta, de pobreza, de miséria, de desemprego e de riquezas certas para alguns. O tango perdurará.
Uma sociedade mais justa é também mais pacífica, mais criativa, mais dinâmica… mais feliz. Quem não deseje isto, apenas pode ser louco ou viver agrilhoado pelo medo de usar uma arma, a maravilhosa arma da democracia: o voto… Você tem medo?

David Roque

(professor de História)

5 comentários:

  1. É preciso abrir os olhos e desmascarar toda esta conversa do voto. O voto só serve o povo, se as personalidades ou partidos disponíveis para serem eleitos, estiverem para servir a nação e não interesses particulares. Logo, escolher onde apenas existem incompetentes ou corruptos, de nada serve. Voltar as costas a essa gente, não votando, porque merecem o nosso desprezo, também pode ser uma atitude a considerar. Escolher os menos maus, não chega. É preciso escolher os melhores, entre os bons. É a minha opinião, que ando cá há muitos anos, mas também posso estar errado.

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  2. É preciso ter atenção ao que os ajuizados e sabedores vão informando e que os jornais e TV não informa. É posxsivel dar a volta a isto.

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  3. É preciso ter atenção ao que os ajuizados e sabedores vão informando e que os jornais e TV não informa. É posxsivel dar a volta a isto.

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  4. É verdade que o PS e o PSD votaram a favor da Constituição da República que entrou em vigor em 1976, que consagrou muitos direitos sociais, alguns que já estavam em vigor, como o salário mínimo, por exemplo. Mas de então para cá, PS e PSD, não só nos governos como na Assembleia da República têm destruído e descaracterizado muitos dos direitos com que estiveram de acordo em 1976. Porquê? Nunca explicaram. Mudaram assim tanto PS e PSD? Ou então, tal como agora (e sempre), foi a conveniência dos interesses do grande capital industrial e financeiro que decidiu que votassem a favor do progresso social, para continuarem no terreno e com a oportunidade de destruir esse progresso, à medida que as curvas apertadas aconteceram no nosso sistema democrático...

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  5. Foi tudo dito. Muito bem dito e melhor escrito.

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