*Cristiane Lisita
Clarissa Pinkola Estes
em sua obra Mulheres que correm com os
lobos (Rocco: 1999) escreve que: “(...) se precisarem, as mulheres pintarão
céus azuis nas paredes da prisão. Se a meada se queimou, elas fiarão mais. Se a
colheita estiver destruída, elas farão outra semeadura imediatamente. As
mulheres desenharão portas onde não houver nenhuma. E elas as abrirão e
passarão por essas portas para novos caminhos e novas vidas. Como a natureza
selvagem persiste e triunfa, as mulheres persistem e triunfam”.
Mulheres que arregaçam as mangas e
não se permitem abater face às agruras, às desigualdades sociais. Em conformidade
com as estatísticas do INE, as portuguesas, desde há muito, sofrem maiores
privações que os homens, alcançando, em 2010, por exemplo, uma casa de 22,2%
significando, todavia, um ameno decréscimo com relação ao ano anterior. A
constatação é de que essas revelam taxas de atividade e de emprego mais baixas
e de desemprego mais elevadas. Tão somente um quinto das mulheres empregadas
está na condição de dirigente, segundo dados de 2015, levando em apreço cargos
e funções de caráter intelectual e científico. Cresce o número de pessoas do sexo
feminino com ensino superior e, igualmente, majora a quantidade sem
escolaridade.
O ganho médio mensal das mulheres
era 79,6 % do valor médio dos homens. Em abril de 2011 esse valor encurtou para
77,6 %. A taxa de desemprego daquelas consistiu em 48,0%, do referido ano, computando
uma população total das mesmas em 53,5%. Das 2,3 milhões de mulheres, diga-se
que a maioria lavorava por conta de outrem (83,0%) e, nesse item, 89,1% a tempo
integral. Outras 103,3 mil estavam em subempregos. E as mais jovens situando-se
no quadro de desemprego de 13,1%.
Registre-se que os homens tiveram
seus salários, em 2011, entre 1 253,2 e 1 254 euros sendo que, em 2012, verificaram-se
valores reduzidos: 1 229,3. No que tange às mulheres esses desníveis
permaneceram acentuados com relação ao sexo masculino. Elas receberam, em 2011,
importâncias compreendidas entre 973,0 e 989,0 euros. As remunerações correspondentes
a 2012 foram de 966,5 até a cota máxima, em tal contexto, de 981,6 euros. Em
2013, incidiu entre 984,6 e 982,4 euros e em 2014, alcançou os reduzidos 978,2
euros.
Mulheres portuguesas que correm com
os lobos nas suas batalhas diárias, sejam quais forem. Elucidaria Clarissa
Estes: “ela é a que gira como uma roda enorme. É a criadora dos ciclos. (...) Ela
é tudo que nos mantém vivas quando achamos que chegamos ao fim. Ela é a
geradora de acordos e ideias pequenas e incipientes. (...) Onde se pode encontrá-la?
(...) desertos, bosques, oceanos, cidades, nos subúrbios e nos castelos. Ela vive
entre rainhas, entre camponesas, na sala de reuniões, na fábrica, no presídio,
na montanha da solidão. Ela vive no gueto, na universidade e nas ruas. Ela
deixa pegadas para que possamos medir nosso tamanho. Ela deixa pegadas onde
quer que haja uma única mulher que seja solo fértil.”.
*Cristiane Lisita
(jornalista, advogada e escritora)
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