Mesquinhos, invejosos, saloios, possidónios, queixinhas,
indiferentes, espertinhos.
Há dias que baixam as guardas, em que se atingem picos de
desilusão e cansaço, e não apetece, mal se consegue, mexer uma pestana por esta
gentinha.
Consomem as existências ocas a rebaixarem-se nas posições de
maior vexame, lambedores de botins, engraxadores, meninos de coro,
desconhecedores da palavra “não”, senão mudos, muito gagos.
Aceitam tudo e abanam agradecidos com a cabeça. Quando lhes
viram costas, põem-se em bicos de pés, armados em pessoas – até altivos - e
cospem para o chão e deitam o lixo na rua, e na primeira oportunidade
queixam-se da falta de educação dos outros, da falta de acesso à cultura, às
coisas belas e significativas da vida.
A seguir publicam nas redes as fotografias e os vídeos das suas
façanhas, a vangloriarem-se das imundIces que fazem, do pequeno furto,
chicos-espertos, à cata de “likes” e reconhecimentos de heróis pelas tribos
suburbanas.
São todos periféricos.
Inteligentes que são, cagam e roubam e são facilmente apanhados
pelas pistas que deixam publicadas em todo o lado.
São geralmente preguiçosos, saem pouco de casa, chegam ao
trabalho já cansados, e só vão se não puderem inventar azias no bucho, ou uma
baixa por exaustão psíquica, uma espécie de stress
provocado por exposição prolongada à melancolia.
Só três motivos são suficientemente fortes para sacudi-los das
tocas : para pastarem os fatos de treino pelos centros comerciais, onde se vão
babar com as beiças coladas nas vitrinas das lojas, e endividarem-se ainda
mais, nos cartões de crédito que alguém inexplicavelmente ainda lhes
proporciona; comemorarem como selvagens as vitórias dos seus clubes geridos por
empreiteiros que mal sabem balbuciar português. Se for preciso dão a camisola e
rasgam os peitos – a vida pela cor, pelo clube; e se houver uma festa que seja
à borla, seja ela qual for: comício, funeral, inauguração de um museu, noivas
de Santo António, carpetes sintéticas vermelhas em noites dos globos da
mediocridade.
Haja croquetes, bonés com bonecos, entradas à borla em sítios
dos finos, e estejam as câmaras de televisão para mandar beijos para casa e
desejar os parabéns em directo às suas Cátias Vanessas, e eles saem todos em
manada, ordeiros e contentes. Mansos e dirigidos.
Pouco importa ao que vão, não sabem, nem se esforçam por saber.
E se hoje os deixam entrar – com os dedos a taparem as narinas e a afastarem-se
deles – num qualquer mamarracho que custou com certeza muito dinheiro e não foi
construído para ter utilidade, nem sustentabilidade, nem rentabilidade, mas
somente para dar nas vistas dos possidónios finos – também esses o são – que
pastoreiam o rebanho, amanhã vão ter de pagar as derrapagens dos orçamentos da
construção, os vencimentos e automóveis dos directores, curadores,
administradores, consultores e diversificados amigos, que de uma forma ou outra
contribuíram abnegadamente e sem interesses, para a gloriosa realização do
magnífico projecto.
Obra única no mundo, senão única, das maiores, melhores, mais
originais, que nisto do engenho e da arte, dizem-se geniais, com o orgulho a
escorrer em lágrimas no canto do olho, quando toca o hino e se descerra a
lápide inaugurativa.
Vão-lhes ao bolso vazio, como o dedo tira macacos do nariz: sem
pedir licenças e devassando a narina com a maior das naturalidades e poder.
E eles que não se queixam! Só na pastelaria quando animados pela
perspectiva do vizinho lhes pagar um bolinho com café, porque em déficites de açucares
no sangue, só dá para dizer parvoeira, e assim fica explicado.
Só apetece dizer asneirolas, dar-lhes tabefes, pôr-lhes orelhas
de burro, virados contra a parede.
Não fosse o idioma doce e rico, as variadas nuances da terra na
sua simpatia natural, o clima suave e acolhedor, as iguarias inúmeras, e era
deixá-los a falarem sozinhos, nos solilóquios intermináveis em que são mestres:
«vou assim-assim», «estou mais ou menos», «cá vamos andando», «pois», «deus
queira», «juro pela alma da minha mãe», «pela felicidade dos meus filhos senão
estou a dizer a verdade», «o negócio é dele, ele que se preocupe, que eu já
faço mais que a minha obrigação», «já dei o que tinha a dar, agora é a vez dos
outros»
Passam a vida a desconversar, e na realidade assim é.
País incompreensível.
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