No limiar do século 20, o legendário império islâmico turco otomano dava sinal de
franca decadência, com dificuldades de
toda ordem em manter seus domínios, principalmente em face da pressão exercida
pelo então pujante e ganancioso
imperialismo inglês que conjuntamente com o não menos ambicioso
imperialismo francês , disputavam na
época o domínio mundial.
A estratégia do império turco em
mandar para o front de suas inúmeras batalhas, que se sucederam ao longo de
séculos, filhos muitas vezes ainda adolescentes, de famílias cristãs que habitavam nos seus domínios, era dentre
outros, o principal descontentamento destas populações. Em meio a elas estavam
os armênios e os cristãos sírios.
Este foi um dos motivos do grande êxodo
cristão existente neste turbulento
período mundial, às vezes de famílias
inteiras e outras apenas de jovens que, embora gozando de relativa posição
social, tinham na emigração a única
saída para não participarem de
guerras, motivadas sempre por interesses
alheios ao seus ideais familiares e patrióticos. Foi nesta esteira que meu avô materno
(José Jorge) chegou ao Brasil, vindo da Síria, com apenas 15 anos de
idade.
Grande esperança varreu todo o
império otomano na primeira década do século vinte, com o golpe militar que culminou
com estabelecimento de uma
monarquia constitucional com a
deposição do sultão Abdul-Hamid II, colocando em seu lugar o seu irmão paterno
Muhammad V, uma figura meramente decorativa, face o governo de fato exercido
por um triunvirato composto pelos jovens militares, Enver, Talat e Djemal, em
um movimento conhecido na história como governo dos “Jovens Turcos”.
Estes oficiais de maneira imatura
frustrou toda esperança de seu povo local e de todos os habitantes de seu vasto império com uma politica mais
repressora de que todos os governos
anteriores, tomou uma medida mais decisiva e desastrosa de toda existência do
Império Otomano, propiciando o seu fim e
mudando consideravelmente os rumos da historia contemporânea do mundo, que foi
o de alinhar-se com a Alemanha e Império
Austro-Húngaro(antigo e ferrenho inimigo), na primeira guerra mundial.
Uma das primeiras intervenções das
forças turcas nesta guerra foi a espetacular defesa dos acessos ao estratégico
mar Negro, do forte ataque da então invencível esquadra inglesa e de seus aliados, com duração de abril de 1915 a janeiro 1916,
cujo palco de operações foi concentrada na península de Galípoli no
estreito de Dardanelos, e por isso conhecida na historia como Batalha que leva os
respectivos nomes; existindo relatos que a quantidade de mortos em ambos os
lados tenham alcançado 500.000 pessoas. Até
hoje, a data inicial desta batalha é efusivamente comemorada no país com
presença de chefes de estados de nações convidadas.
É interessante ressaltar que as
forças capitaneadas pela Inglaterra sofreram nesta batalha, que era para ser a
maior operação anfíbia de que se tinha noticia, a considerada mais humilhante
derrota em sua longa história. O comando
desta frustrada operação coube a Winston Churchill( futuro herói da segunda grande
guerra), então Primeiro
Lorde do Almirantado inglês, cuja
derrota veio marcar toda sua vida.
As tropas turcas foram comandadas com grande
maestria pelo então desconhecido jovem
oficial Mustafá Kemal, futuramente conhecido
como Atatürk (pai da Turquia), por ter
sido herói da resistência turca contra a pretensão inglesa e aliados de dominação de Istambul e
de toda península de Anatólia (o que
restou do vasto império otomano) e no
governo, ter conseguido modernizar o pais.
Estimulado pelas
surpreendentes vitórias conseguidas
nesta batalha e aproveitando a grande popularidade alcançada, o governo turco
concluiu que este seria o momento apropriado para solução final do que eles
chamavam de “questão armênia” e da necessidade de abafar movimentos
separatistas na península arábica, notadamente na Síria.
A data 24/04/1915 ficou marcada na história macabra
do mundo, como início da tenaz perseguição ao indefeso povo armênio por parte
da Turquia Otomana, comandada pelo governo dos Jovens Turcos, no chamado Genocídio
Armênio, conhecido também como Holocausto Armênio, que constituiu na deportação forçada e consequente mortes entre um milhão e um milhão e meio de pessoas
de origem armênia , com a intenção
de exterminar sua presença cultural, sua vida econômica e seu ambiente
familiar. Esta covarde e desproporcional agressão a este ordeiro e pacifico
povo, infelizmente nunca foi reconhecido pelos anteriores e atuais governantes
da Turquia, que tem insistido em ferir o consagrado principio universal: “Um genocídio não termina
enquanto não for reconhecido”.
Nesta mesma época foi enviado à Síria o então ministro da
marinha e membro do triunvirato de governo, Djemal, para sufocar qualquer iniciativa
de independência, que o fazendo com tamanha brutalidade lhe valeu o apelido de “Açougueiro de Damasco”. Embora
não exista contabilização das mortes, presume-se que
tenha sido muito grande, constituindo um verdadeiro massacre pouco relacionado nos livros de história e não reconhecido pela
Turquia.
Convém lembrar que barbaridades como esta, ao
longo da historia, não foi somente exclusividade dos otomanos, em 1946, Damasco
foi alvo também de um covarde bombardeio por parte da França, com morte de
centenas de inocentes civis, fato esse que tem sido camuflado e pouco divulgado
pelas nações ocidentais.
A realidade atual desta região é
ainda mais complexa do que foi no passado, pelo incremento do chamado apelo
econômico decorrente da exploração petrolífera e por ter ainda que conviver com
o lixo trazido pela malfadada consequência da chamada Primavera Árabe.
A situação tem desafiado os mais
experientes estrategistas especializados em assuntos do médio oriente, ninguém
se arriscando em dar uma previsão consistente sobre o desfecho final do que poderá
ali acontecer.
Restando uma remota esperança de solução, ainda que seja pela
interferência estrangeira, principalmente
pela posição mais sensata e pacifista (em relação aos seus antecessores) do
presidente Barack Obama, no trato com os inúmeros e aparentemente insolúveis problemas locais, caracterizado pela continua
e persistentes mortes de inocentes.
Orivaldo ori@uol.com.br
Artigo publicado no jornal Diário da Manhã de Goiânia- Go , Brasil - no
dia 18/05/2015, no caderno
Opinião Pública pg. 5
- Site do jornal: http://www.dm.com.br/
Obrigado amigo Orivaldo pela lição de história. Não concordo é consigo quando diz que a remota solução pode estar em Obama. A raposa nunca pode defender o galinheiro. Os EUA que apoiaram os Talibans no Afeganistão, voltaram a fazê-lo em relação a toda a escumalha fanática e criminosa na Líbia e na Síria. Fazem-no sempre por razões estratégicas e em relação a governos que não lhes obedeçam.
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ResponderEliminarNão importa que seja Obama ou Putin, o que interessa é que hajam Homens de boa vontade, que tentem evitar genocídios de qualquer jaez.
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