Agora que a "lambada" passou de moda, já não se dança como
antigamente. O compasso obedece a normas e leis, e pais que castiguem os filhos
por estes darem sinais de maus passos e de má educação ou terem práticas
marginais, são alvo de denúncia e incriminados pelos maestros que julgam
e regulam comportamentos de família. Hoje o ritmo é outro dentro da sala de
casa ou no salão da família. Desapareceu a batuta do patriarca e baixou a mão da maestrina que
levantavam em uníssono a voz e exerciam a condução dos membros que afinavam sob
a sua autoridade e interrompiam quando a orquestra dentro do cenário familiar
tinha alguém a sair a tocar fora do tom e a querer desobedecer às notas que a
pauta impunha, originando um estardalhaço por todo o bairro. Estou a falar da
família com pai e mãe presentes, e não de pais rapper´s ou alternativos e
exóticos, com o boné virado ao contrário, com cueiros das calças desafiveladas
pelos joelhos, fazendo os pais andar também com o "capacete" virado
do avesso. E não é para menos. Umas vezes ou quase sempre por suas próprias
culpas, mas outras, reconhecemos, que por causas de más companhias, rupturas
sociais, desemprego, e até mediáticas. O barril da pobreza provocada pela
conjuntura do país miserável que espalha desigualdades, não é instrumento a
desconsiderar, e por isso dando o mote à explosão de rudes acordes a qualquer
momento. E tal momento nesta turbulenta partitura existe na escola, no grupo
que passou a bando, na rua que se fez palco de violência, no bairro que se
tornou um inferno para quem lá vive, ou se fez um lugar vazio e destinado a
nada. Sobram os abusos e a má educação oriunda de programas inúteis, umas
naturais, domésticas, outras oficiais ensaiadas por peritos especializados em
aplicações de modernos métodos de salvação deste tipo de sociedade desafinada.
E todo o bairro somos nós e toda a cidade é o país a tocar para a frente este
deixa andar. E neste vira-o-disco-e-toca-o-mesmo a música soa a abandono, e
enquanto isso recrudescem vícios e maus comportamentos que nos preocupam e que
o Estado acompanha assobiando para o lado, colocando à disposição desta
fandanguisse um conjunto de psicólogos para fazerem coro, e continuar a
governarem com a consciência mais tranquila. E tudo isto porque se tirou do top-ten da educação, a "lambada"!
*-(publicado no JN em 30/05/2015 c/o título e arranjo:"As famílias desafinadas")
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