Já não se ficam pelas ameaças...
São frequentes as notícias de agressões a pessoal médico e
docente nos respectivos locais de trabalho, e não se vê que os castigos sejam
dissuasores; sou dum tempo e dum lugar em que os pais, sobretudo algumas mães
com maridos emigrados, quando iam à escola era para pedir aos professores que
dessem aos filhos o correctivo que merecessem, que “não lhas poupassem”;
verdade seja dita que nem era preciso pedir, pois naquele tempo a maioria dos
professores não esperava por licença para desancar.
“...O conde ainda não aparecera, detido decerto na Câmara
dos Pares, onde se discutia o projecto sobre a Reforma da Instrução Pública. Uma
das senhoras de preto fazia votos para que se aliviassem os estudos. As pobres
crianças sucumbiam verdadeiramente à quantidade exagerada de matérias, de
coisas a decorar: o dela, o Joãozinho, andava tão pálido e tão desfigurado, que
ela às vezes tinha vontade de o deixar ficar ignorante de todo.
A outra senhora pousou a chávena, e passando sobre os lábios
a renda do lenço, queixou-se sobretudo dos examinadores. Era um escândalo as
exigências, as dificuldades que punham, só para poder deitar RR... Ao pequeno
dela tinham feito as perguntas mais estúpidas, as mais reles; assim, por
exemplo, o que era o sabão, porque lavava o sabão?...
A outra senhora e a condessa apertaram as mãos contra o
peito, consternadas: E Carlos, muito amável, concordou que era uma abominação. O
marido dela – continuava a dama de preto - ficara tão desesperado que, encontrando o
examinador no Chiado, o ameaçou de lhe dar umas bengaladas”.
Amândio G. Martins
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