quarta-feira, 18 de março de 2020

Certo ou errado, ninguém sabe


Ontem, escrevi um texto que, por “cobardia”, não me atrevi a enviar a ninguém. Hoje, aproveitando a magnífica definição adiantada por Manuel Loff no seu artigo no PÚBLICO (“Estado de pânico institucionalizado”), assumo-me como um dos “cobardes” e irresponsáveis por não aceitarem a “valentia” dos que entendem ser útil e necessário instalar no país um ambiente generalizado de catástrofe e fechamento. Pode ser que me encontre completamente enganado e - oxalá que não! - venha a ter de me penitenciar por continuar a pensar desta forma. Mas chegámos a um ponto tal que é preciso ter coragem para relativizar o pânico instalado. Afogados pela comunicação social, que monocultiva o tema, não nos resta tempo para mais nada que não seja o constante afagar e remexer nas feridas que vieram para ficar pelos próximos tempos. Tal como as consequências sociais que, adivinho, começarão a manifestar-se muito em breve, desde a irritabilidade geral por motivos comezinhos, aos problemas sérios que os economicamente mais débeis vão sentir na pele. E tudo devido a um (possível) empolamento dos perigos que, segundo alguns, a Humanidade corre. Atendendo às estatísticas disponíveis, e sem ignorar os efeitos exponenciais que alguns indicadores possam atingir, não me parece que o coronavírus seja o maior problema que a Terra tem para resolver. É evidente que o problema é sério e aconselha cuidados que cada um de nós deve acautelar. Façamo-lo sem histerias colectivas e sem constrangimentos porventura dispensáveis. E que os dirigentes, eles próprios inexperientes nestas situações, não embarquem em “populismos de Estado”, esses sim, potenciadores de problemas originados pelas soluções duvidosas que se vão implementando. 
Obrigado ao Manuel Loff (mas também a Pacheco Pereira e a Vicente Jorge Silva, todos no PÚBLICO), que me deram a “coragem” para libertar este desabafo que há dias me oprime.  

4 comentários:

  1. Vou ler os artigos que citou, para ver se o entendo a si, caro José. Talvez volte aqui mas há uma coisa que poderei dizer sem receio de errar: a pandemia pelo coronavírus é o maior problema que a Terra tem para resolver... neste tempo contemporâneo.

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    1. Tenho a certeza de que o Fernando coloca no assunto a melhor das boas vontades. Faça-me o favor de acreditar que não sou menos bem intencionado na análise que faço sobre o que não me parece ser o maior problema actual da Terra. Verdade, verdade, acho que, como digo no título, “ninguém sabe”. Mas começo a ver as primeiras vozes dos que, como eu, têm medo da cura. De resto, tenho suficiente confiança na ciência para saber que o problema do coronavírus vai ser resolvido, em prazo mais ou menos curto. Já há sinais disso no mundo, mas de que não vejo grandes parangonas na comunicação social, ao contrário do que seria de desejar. E nem sequer me estou a referir a eventuais vacinas que, como todos sabemos, precisam de muito tempo para serem validadas. Prefiro olhar para o número de curados/recuperados por esse mundo fora, tão pouco tempo após o surgimento da doença. Por outro lado - e peço-lhe que não veja nisto qualquer anátema sobre a classe médica, que respeito e aprecio profundamente -, gostaria de sentir aí mais gente a preocupar-se preferencialmente com a resolução do problema, curando os infectados, em vez de canalizar toda a atenção para evitar a doença. Preferia ver a classe a “colocar toda a carne no assador” da cura, tranquilizando as “massas”, em lugar de passar a vida a assustar tudo e todos pela pecadora falta de prevenção que nos vai “perder”. Uma classe médica forte e resoluta, a enfrentar e resolver o problema, sem se reduzir ao aconselhamento de o contornar. E note que estou longe de desvalorizar a contenção que, civicamente, todos devemos praticar.
      Quanto ao problema sócio-económico que há-de vir, depois veremos. “Ninguém sabe” como o resolver. E mete-me mais medo, sobretudo depois de uma paralisação global (proporcionada?), uma “greve geral” contra o Covid-19.

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    2. Como tinha dito, li os três artigos que o estimularam a escrever. E li ainda um outro, de hoje, do João Oliveira, no PÚBLICO. Sinto-me um bocado ridículo, mas peço-lhe que o que vou dizer para a nossa "discussão" seja visto com um espectro mais amplo do que o escrito pelos referidos opinadores - que somente são "bengalas" de estímulo à discussão de tema - bem como ao seu texto e os meus e seus comentários. Isto porque assim como se auto-intitulou "cobarde" ( não o é, com certeza!), também eu me sinto "pequeno" no meio da pandemia e, acima de tudo, das diversas visões que aparecem, incluindo as dos quatro escribas que... valem tanto como a nossa. Mas vou "recolher-me" a nós os seis, senão excedo o perímetro deste blogue.
      De todos - o José e os outros quatro ( três, para si) - recolho uma única opinião comum: a "benignidade" do Covid19. Afora essa, as linhas de pensamento diferem, indo de um visão social a uma política ( com nuances), passando pela inevitável... económica. Continuando a sentir-me "pequeno", divirjo, pois vejo, antecedendo todas essas preocupaçóes ( de diferente qualidade "ética") aquilo que é um facto: uma pandemia por um vírus que não sendo dos "piores", deve ser erradicado (?) pois também mata que se farta. E, venha ele donde vier ( até posso dar de barato que seja criminoso nas intenções humanas), é consensual que é na prevenção de massas, já em "fase de estado", que o podemos vencer à míngua de terreno onde se expanda exponencialmente... até que "desista". E termino dizendo o que decorreu desta minha convicção que vale o que vale mas tem que ser expressa aqui e no contexto do que disse, caríssimo José.
      Nota- Repito o que disse no princípio: a minha intervenção é circunscrita ao que escrevemos os seis, num debate a dois, você eu. Deixei de lado outras opiniões que vão desde as apocalípticas (desejadas ou inevitáveis), o retorno ( como, se nunca houve um mundo assim?) imediato ao "mel e flores",aos oportunistas materiais ( de diferente teor) , os indiferentes ( poucos) e todos os outros. Não por lhes negar lugar, mas pelo que já expliquei acima.

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    3. Caro Fernando,
      Tenho a certeza de que também leu o artigo de João Miguel Tavares na mesma edição do de João Oliveira. Desta vez (caso raro!), concordo absolutamente com ele. Evidentemente que a opinião dele é mais uma (como as nossas), nada mais do que isso.
      Mas deixe-me repetir: nada contra a prevenção da doença (pratico-a convictamente). Mas, no fundo, para mim, tudo se resume a isto: tenho muito mais medo das consequências do que se está a passar, por vontade humana, do que do vírus em si.

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