Plantar batatas...

O que me faz conservar a sanidade mental em níveis que não alertem a comunidade é ter o tempo todo ocupado nas mais diversas tarefas, desde manhã bem cedo até ao fim da tarde, quanto mais não seja porque, da forma que as coisas vão, há-de haver por aí muita gente a pirar; ontem, por exemplo, estive o dia todo na horta, agora que se faz tempo de renová-la com as mais diversas sementeiras e plantações.

Como não tenho animais para produzir o estrume que necessito, e não uso adubos químicos, fui comprá-lo ensacado aonde já costumo ir; o António da Ermida, que desce do monte bem cedo só para tomar café e conversar um pouco, ao ver-me carregar cinco sacos daquilo, perguntou-me o que ia fazer com tamanha estrumeira, ao que lhe disse que ia plantar batatas.

- Plantar batatas? Deves ser a única pessoa daqui que planta batatas, porque tanto eu como os outros que conheço semeamos batatas.

-Não, António, todos vovês plantam batatas, por muito que digam que as semeiam, porque a batata não é uma semente, quando vai para a terra é um tubérculo verde grelado, coisa que, se reparares bem, não tem qualquer semelhança com nenhuma semente que se conhece, pois estas são secas.

-Ok, vai lá então “plantar” as tuas batatas que eu, lá para o fim do mês, também vou mas é “semear” as minhas porque, nem que me matem, não irei a esta altura da vida habituar-me a “plantar” batatas...

Amândio G. Martins