quarta-feira, 11 de março de 2020

Rigor ou emoção?

 O "Got Talent" é um belíssimo programa televisivo que passa nas noites de domingo da RTP1. Para além do divertimento, mostra a enorme quantidade de valores diversos que existe em Portugal, a maior parte nacionais, mas também alguns estrangeiros. Até às semi-finais - oito, no total - a classificação de apurado ou excluído, era dada por um um.júri de quatro elementos, mas, a partir das semifinais - já se realizou a primeira - há, também, um voto telefónico do público e quem tiver o maior número de votos por parte deste é imediatamente apurado para a final, enquanto, entre o segundo e o terceiro, a escolha de apuramento é feita pelo júri, passando, portanto, dois à fase seguinte.
A que vem este arrazoado? Pois a propósito do apuramento, pelo voto do público, dum jovem casal - ela com trisomia 21 ( mongoloidismo) e ele um rapaz negro muito elegante nos gestos - que já vinha da fase anterior por via dum "botão dourado" ( este apura, qualquer que seja o voto dos outros três) duma das juradas que, visivelmente emocionada, se lhe "rendeu". O trabalho artístico do casal é um misto de ginástica/malabarismo, mas isso será irrelevante. O que é relevante é que, sendo bonito, o trabalho do casal era -obviamente, dado o "handicap" da menina - cheio de imperfeições técnicas. E  aqui "bate o ponto": houve pessoas que foram eliminadas por.... imperfeições do mesmo teor. Estou a lembrar-me duma jovem que cantava dum modo "divino" e "foi à vida" porque "fazia mal" (?) a passagem dos agudos para os graves ( eu, que sou "mouquinho", de facto e musicalmente, não dei por nada... mas admito que julgou bem quem bem ouviu ).
A pergunta que faço, "politicamente pouco correcta", é: neste concurso, aduzida que já foi a primazia do rigor técnico ( seja ele qual for), deve a emoção ter valimento na classificação? Mesmo sabendo que o casal beneficiado assuma a sua luta pela inclusão como primordial, como o fez e disse? As "armas" desiguais valem como iguais, só porque nos "tocam o coração"? Não concordo, mesmo que me chamem "coração de pau".

Fernando Cardoso Rodrigues

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