Ninguém escapa, nem o Rei nem o Papa...
Estava-se na Cimeira Iberoamericana de 2007; Chavez,
presidente da Venezuela, arengava contra o já apeado Aznar, de fascista para
cima; o substituto, Rodriguez Zapatero lembrou-lhe, em tom firme, que estava a
ser incorrecto com um ex-chefe de Governo eleito pela maioria dos espanhóis,
mas de nada serviu a intervenção de Zapatero, pois ninguém calava o revolucionário
bolivariano.
Foi então que “Su Majestad Juan Carlos”, que já não
aguentava mais aquilo, disparou a célebre frase que divertiu o mundo: “Por qué
no te callas”? E a verdade é que o homem calou-se mesmo e, mais tarde, terá
reconhecido que estava a ser excessivo, e que numa viajem ao exterior, quando sobrevoava
Espanha, ofereceu ao rei uma saudação fazendo “gingar” o avião. Revivi a cena
da Cimeira um dia destes quando, na apresentação do programa de Ana Pastor, “Dónde
estabas entonces?” dedicado aos acontecimentos daquele período, a estafada
frase foi usada como chamariz.
O velho “Juca” já não reina, mas a sua imagem, sempre muito
respeitada por grande parte dos espanhóis, pela forma como se empenhou na
defesa e consolidação da democracia, está hoje a ser atacada por todos os
lados, agora que as autoridades suiças estão a levar a sério a investigação a
um antigo caso de corrupção envolvendo o rei, que ao tempo ainda estava no
activo, e a princesa alemã Corine Wittegenstein, que teria sido fiel depositária
de 65 milhões de euros resultantes de comissões pagas pela intervenção de Juan
Carlos no fornecimento espanhol do comboio de alta velocidade para Meca, além
de uma moradia em Marrocos, e que este, mais tarde, terá usado de cumplicidades
nos serviços secretos do país para pressionar Corine a devolver-lhe os bens, só
que esta afirma terem sido presentes do
amigo reinante!
As relações do rei espanhol com aquela senhora já tinham
dado escândalo aquando de uma caçada no Botsuana, em que os dois apareciam “fotografiados”ao
lado de um elefante abatido; Juan Carlos pediu desculpa aos espanhóis e ao
mundo, e como logo de seguida sofreu um acidente que o deixou muito afectado,
seguindo-se a resignação a favor do filho, o seu mau comportamento ficou um
tanto esquecido, até que ressurge agora, para mal dos “pecados” de Filipe VI, que nada terá tido a ver...
Amândio G. Martins
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