quinta-feira, 5 de março de 2020


Ninguém escapa, nem o Rei nem o Papa...


Estava-se na Cimeira Iberoamericana de 2007; Chavez, presidente da Venezuela, arengava contra o já apeado Aznar, de fascista para cima; o substituto, Rodriguez Zapatero lembrou-lhe, em tom firme, que estava a ser incorrecto com um ex-chefe de Governo eleito pela maioria dos espanhóis, mas de nada serviu a intervenção de Zapatero, pois ninguém calava o revolucionário bolivariano.

Foi então que “Su Majestad Juan Carlos”, que já não aguentava mais aquilo, disparou a célebre frase que divertiu o mundo: “Por qué no te callas”? E a verdade é que o homem calou-se mesmo e, mais tarde, terá reconhecido que estava a ser excessivo, e que numa viajem ao exterior, quando sobrevoava Espanha, ofereceu ao rei uma saudação fazendo “gingar” o avião. Revivi a cena da Cimeira um dia destes quando, na apresentação do programa de Ana Pastor, “Dónde estabas entonces?” dedicado aos acontecimentos daquele período, a estafada frase foi usada como chamariz.

O velho “Juca” já não reina, mas a sua imagem, sempre muito respeitada por grande parte dos espanhóis, pela forma como se empenhou na defesa e consolidação da democracia, está hoje a ser atacada por todos os lados, agora que as autoridades suiças estão a levar a sério a investigação a um antigo caso de corrupção envolvendo o rei, que ao tempo ainda estava no activo, e a princesa alemã Corine Wittegenstein, que teria sido fiel depositária de 65 milhões de euros resultantes de comissões pagas pela intervenção de Juan Carlos no fornecimento espanhol do comboio de alta velocidade para Meca, além de uma moradia em Marrocos, e que este, mais tarde, terá usado de cumplicidades nos serviços secretos do país para pressionar Corine a devolver-lhe os bens, só que esta afirma terem sido  presentes do amigo reinante!

As relações do rei espanhol com aquela senhora já tinham dado escândalo aquando de uma caçada no Botsuana, em que os dois apareciam “fotografiados”ao lado de um elefante abatido; Juan Carlos pediu desculpa aos espanhóis e ao mundo, e como logo de seguida sofreu um acidente que o deixou muito afectado, seguindo-se a resignação a favor do filho, o seu mau comportamento ficou um tanto esquecido, até que ressurge agora, para mal dos “pecados” de  Filipe VI, que nada terá tido a ver...


Amândio G. Martins



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