domingo, 29 de março de 2020

Recordação

Num momento em que vivemos invadidos por um vírus espiculado, vários nomes me cruzam o pensamento, entre eles, um releva: Itália. Os mortos já ultrapassam os dez mil e isso contrasta fortemente com a riqueza cultural que "la bella" possui, a não merecer  a pouca solidariedade duma Europa que bebeu "nela" muita da sua estrutura. Por lá passei quatro vezes. Duas em Milão, cidade industrial onde o "Duomo" avulta e de que lembro a magnífica estação dos comboios, em ferro, as galerias Vittorio Emanuel e a igrejinha de Stª Maria de la Grazie com a última ceia de Leonardo da Vinci. A terceira foi um périplo "corredio" em que estar somente dois dias em Florença foi um travo amargo, "compensado" pela ida a Assis, Veneza  e a toda uma beleza natural e artística que acompanhei com os olhos e o coração. A quarta é tal recordação do título, em que o meu estado de alma ajudava. Foi a Trieste e nunca esquecerei a lentidão do calcorrear o Passeio de Rilke, junto ao Adriático, "ouvindo os canhões" do outro do mesmo, na guerra suicida dos Balcãs. E nunca esquecerei a viagem de comboio para Veneza onde, entre vigil e adormecido, acabei de ler o "Cartas a Sandra", o último de Vergílio Ferreira... Este mesmo que dizia que "o que acontece é o que acontece em nós desse acontecer"....
.... e foi o que me sucedeu - entre o belo e o horrível, como quase sempre - e agora está, igualmente, a acontecer, mas hoje numa comunhão mais alargada de "gentes" diversas em que vivemos entre o medo e a esperança dum fim que vai tardando.... mais ainda para o belissimo e único "azurro" italiano....

Fernando Cardoso Rodrigues

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