sábado, 28 de outubro de 2017

As minhas lágrimas são estas

Ausente do país precisamente durante a tragédia que começou no último dia da 41ª semana do ano em curso, não me sentia muito seguro para comentar o que apenas a posteriori vi imagens, artigos de opinião, comentários, etc, o que não é o mesmo se tivesse tido a mesma oportunidade aquando dos trágicos acontecimentos de Pedrógão Grande. Tive no entanto a oportunidade de assistir à intervenção da insuspeita Clara Ferreira Alves no programa Eixo do Mal e fiquei esclarecido tanto mais que o porta-voz da geringonça Daniel Oliveira ajudou bastante a tirar conclusões. Embora muito mais houvesse a dizer, fecho o puzzle com o aviso atempado do IPMA que, por não ter sido respeitado estamos perante uma negligência criminosa. Só que desta vez, não apareceu a tábua de salvação como em Pedrógão Grande quando Passos Coelho, devido a uma informação errada, falou nos famigerados suicídios e que ainda hoje, passado tanto tempo, a geringonça se agarra. Estava para ficar por aqui mas como acabo de ler uma opinião técnica que alerta que "mexer agora nas cinzas pode ser pior que os incêndios", e vendo o caso por outro prisma resolvi precisamente mexer, e bem, nessas Cinzas da vergonha e da dor para que jamais este drama se repita. Nas Cinzas das dezenas de fábricas destruídas que arrastaram pessoas para o desemprego. Nas Cinzas de milhares de animais destinados à nossa alimentação e não só. Nas Cinzas de oitenta por cento do Pinhal de Leiria com 700 anos. Nas Cinzas das centenas de habitações das populações que tanto sacrifício fizeram para as erguer. Nas Cinzas de mais de 100 seres humanos que por direito deviam ainda fazer parte do número dos vivos. Se estou revoltado e se choro por tudo isto? Claro. Mas infelizmente a minha glândula lacrimal já deixou de funcionar há cerca de quarenta anos atrás com as perdas da época e não sei deitar lágrimas de crocodilo como outros. Por isso aqui ficam as minhas lágrimas. Jorge Morais
 

   Publicada em:

   Semanário EXPRESSO de 28.10.2017
   DN-M 02.11.2017
   JN 02.11.2017


                                                                Ilustração do leitor Paulo Pereira

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