Crónicas deliciosas II – General Mortos
No seu livro de crónicas “A substância do amor”, - Publicações
Dom Quixote - o escritor angolano José Eduardo Agualusa conta a forma imaginosa
que um amigo jornalista arranjou para ter acesso a qualquer instituição pública
angolana.
Tendo trabalhado em tempos em Nova Iorque, num departamento
da General Motors, guardou dessa empresa multinacional um cartão com fotografia
a cores; e basta-lhe apresentá-lo para os guardas se perfilarem, baterem
continência e o saudarem:
-Muito bom dia, nosso general!
Talvez porque Motors seja nome estrangeiro, e porque entre
os militares de baixa patente poucos dominam a escrita, a maior parte conhece-o
por general mortos, acreditando ser aquele o seu nome de guerra...
Num país onde os boatos nascem do nada, e logo prosperam
como cogumelos em terra húmida, rapidamente se começou a espalhar a lenda
segundo a qual ele teria ganho a terrível alcunha na época colonial, por ter
abatido como tordos um grande número de soldados portugueses.
Enviado a Malange por um jornal sul-africano, valeu-lhe
exibir mais uma vez o cartão, induzindo um aflito sargento a conduzí-lo ao
centro da cidade, onde foi reconhecido por um capitão:
-General Mortos! O nosso general chega em boa hora; vai
começar uma importante reunião da Inteligência Militar.
E apresentou-o aos “espiões” ali reunidos:
-Este é o nosso general Mortos, um herói.
Vendo confirmada a expressão “Inteligência Militar” uma
evidente contradição nos termos, toda a gente o recebeu com manifestações de
respeito, pois embora ninguém ali tivesse conhecimento de tal general,
acreditaram que fosse um ex-elemento da UNITA, integrado, com sucesso, nas
fileiras do exército nacional...
Amândio G. Martins
NOTA DE RODAPÉ – Para um caso patológico com anos a postar
monturos de esterco na tentativa desesperada de me insultar, que já leva o delírio
ao ponto de vestir a pele de “musa” dos meus versos e até incorpora os
fantoches políticos que “mimoseio” sempre que me parece oportuno, só me ocorrem
estas palavras de Anatole Frence: “O néscio é muito mais funesto que o malvado;
é que o malvado descansa às vezes, o néscio não descansa nunca!
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