Não será fácil fazer um “directo” televisivo, prolongado no
tempo de uma tarde e ter “conversa” para preencher esse espaço.
A emissão da SIC Notícias sobre a manifestação de solidariedade
em Paris no Domingo passado foi uma emissão antológica, salpicada de
apontamentos escatológicos apimentados.
Um coordenador jornalístico em floreados de lugares comuns desencantados
da sua cosmogonia particular; um jornalista disparando toda uma artilharia de
ideias inacabadas, incorrecções culturais, exercitando-se com citações pessoais em campos perigosos – onde
se deve estar bem consolidado. Assuntos sérios como a religião, a história, a
sociologia, a antropologia, a filosofia, que exigem muito estudo e humildade na
abordagem. Um general, finíssimo na subtileza de um discurso elaborado,
previamente pensado, e claramente conservador, para não utilizar termo mais penetrante.
Foram estes os melhores convidados para este espaço importante
de informação? Eram os que estavam disponíveis? Ou não importa porque os poucos
que perderam um Domingo de sol para ficar em casa, só tinham a televisão ligada
para que a doce modorra do som de fundo, induzisse a sesta mais rapidamente,
pouco importando o diálogo?
A SIC nasceu como alternativa a um monopólio de televisão
pública, manietada nas suas liberdades e criatividades pelos poderes políticos
sentados nas cátedras que ocupam nos ciclos de governação que partilham à vez.
Foi durante anos uma lufada de frescura e inovação.
Passados todos estes anos, a televisão pública continua a
asfixiar-se na sua perdição, tenta compulsivamente o suicídio mas não aperta a
corda o suficiente para ser de vez. É um espantalho que se espantalha a si mesma.
Outros canais que
entretanto nasceram ilustram o paradigma do mundo moderno: superficial,
rasteiro, barraca de tiros de feira. Têm audiência mas não têm essência. Não
interessam para nada.
Porque escolheram estes comentadores num dia tão importante para
os europeus, um dia de acto de contrição sobre modelos de existência, gastos,
corroídos, putrefactos? Um dia de reflexão inadiável sobre o futuro.
Um comentador que representa um passado que era saudável estar
definitivamente esquecido; as barbaridades incultas de outro, e uma conversa de
esplanada num qualquer paredão para confrades da mesma tertúlia em ambiente de
fim de semana. Foi o que melhor se arranjou, para comentar assuntos que pela
diversidade e conteúdos exigiam não um mas uma mão cheia de bons Humanistas, se
os houver tantos e à mão de semear.
A SIC tem pessoas destas e tem o número de telefone de outras que não são da casa, e quem fez a escolha deveria ter esse
cuidado, e sensibilidade.
É pena porque nestas oportunidades pode-se fazer a pedagogia do
pensar, ajudar as pessoas a compreender melhor a complexidade do mundo, e sem ser
paternalista, dar um empurrão à lucidez.
Ficará para a próxima.
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