sábado, 3 de janeiro de 2015

O verdadeiro ditador do povo é esse mesmo povo

Entrei para a Banca em 1969 e após ter estado no ex-Ultramar em missão de soberania.
De seguida, como era contestatário consciente q.b., fiz parte do secretariado permanente da CNT/BPA/ZN – Comissão Nacional de Trabalhadores do Banco Português do Atlântico da Zona Norte.
E fui sempre, de entre as mais variadas questões laborais, contra qualquer tipo de subsídio, que normalmente era atribuído a quem menos o merecia.
Defendia e defendo que o trabalhador deve ter um ordenado, salário, vencimento ou jorna compatíveis e de acordo com as funções do seu posto de trabalho e tendo também em conta as suas habilitações escolares e profissionais para o cargo a desempenhar.
Portanto, subsídio de refeição – que representa a assiduidade – subsídio de risco, subsídio de falhas, atribuição de viatura de serviço, avião particular, atribuição duvidosa do RMG de RS – Rendimento Mínimo Garantido de Reinserção Social -, que em muitos milhares de casos somente garante a não procura efectiva de trabalho, ficando-se cada vez mais longe ou definitivamente ausente do trabalho honrado, por parte de quem o perdeu; subvenções e outras atribuições sumptuosas de topo, fora de um ordenado compatível e razoável, assemelha-se, penso eu, em distorcer o máximo aceitável de qualquer tipo de equidade no mundo laboral, e não só.
E o tempo veio dar-me razão. E, com a chegada de Cavaco Silva ao Poder Executivo com a ‘santa’ AD, o desregramento e caos laboral atingiram o clímax na atribuição de subsídios para tudo e mais alguma coisa.
As regras laborais distenderam-se em compadrios e em eleitos da mesma cor política.
E tal desregramento - alargado a toda a sociedade em geral – expandiu fronteiras de interesses grupais duvidosos com a chegada de comboios de dinheiro vindo da Europa Comunitária.
E, como todos sabemos, foi um fartar de vilanagem. Subsidiou-se perdulariamente para tudo e mais alguma coisa, sem qualquer interesse ou sustentação.
Subsidiou-se para nada ser feito, porque os altos cargos de qualquer decisão nacional repartiram entre si o melhor quinhão.
A pouca indústria que havia – porque agora éramos ricos e estávamos no pelotão da frente - foi-se; a frota pesqueira foi afundada; as poucas linhas de navegação comercial – de mercadorias, passageiros e lazer – foram desbaratadas; as fundações apareceram como cogumelos, em que a grande maioria não passa de fachadas de negócios ilícitos que sorvem milhões ao Erário Público, tal como as tenebrosas parcerias público privadas.
Resumindo: o país necessita urgentemente de aumentar os postos de trabalho e não subsidiar o ócio e a inactividade.
Se em 1974 existiam 5 trabalhadores para um reformado, hoje em dia existe uma igualdade – um trabalhador no activo para um reformado.
E tudo porque, para os roubos de topo não serem tão gritantes, subsidiou-se a sempre dita arraia-miúda, para que tudo ficasse como dantes.
Assim, o desfecho das más governações e das suas péssimas decisões está à vista.
A iliteracia comportamental da sociedade em geral atingiu os limites do admissível, pois ‘nem só de pão vive o homem’, uma vez que muitos dos mais carenciados são os que mais desperdiçam, seguindo o exemplo despesista da máquina do Estado.
Termino afirmando que o verdadeiro ditador do povo é esse mesmo povo, pois tem elegido os algozes de si mesmo.

José Amaral


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