Autosuficiência perversa

 

O pretensiosismo da Esquerda extrema, de que tudo que faz é bem feito, para se destacar dos socialistas, que, segundo aqueles, estarão sempre disponíveis para fazer fretes à Direita, tem feito com que, em Espanha, Pedro Sánchez tenha de engolir grandes sapos, para tentar levar o Governo de coligação com ”Podemos” e “Izquierda Unida” - a esta última organização pertence Yolanda Diaz, ministra do Trabalho e a ú nica dos dois grupos que se tem destacado pela positiva -  a concluír a legislatura; de facto, basta o chefe do Governo mostrar algumas reticências àquilo que não lhe parece o mais aconselhável e logo surgem as ameaças veladas, a intransigência em decidirem como querem.

 

É o caso da lei do “Só sim é sim”, que pretende defender as mulheres dos abusos e violações de natureza sexual, que, nos tribunais, se viam sempre fragilizadas perante a complacência dos juízes com as justificações dos abusadores para a indignidade dos seus actos, levando a mulher a saír daquilo como uma leviana que provocou o homem para o acto de que tarde se arrependeu.

 

Ao ser publicada a lei, logo alguns magistrados avisaram de que ela, como estava, os ia obrigar a rever penas já aplicadas, se os condenados o pedissem, podendo resultar a libertação antecipada daqueles a quem faltasse pouco tempo para cumprir, o que realmente vem acontecendo, com cerca de duzentos deles já beneficiados e perto de vinte libertados das cadeias onde cumpriam o castigo.

 

Todavia, apesar de todos os avisos, a autosuficiência da autora da lei, Irene Montero, ministra da Igualdade, preferiu apodar os magistrados de “maxistas” e “fachas com toga”, mas não aceitou corrigir o que estava mal, o que tem sido um prato cheio para a Direita, chamando “chapuza” ao trabalho da ministra; e nem vendo que até figuras respeitadas de esquerda, como agora a prestigiada Manuela Carmena, magistrada jubilada, que disse bem alto que  “no corrigir la ley es soberbia infantil” , consegue sensibilizar a jovem ministra, que reagiu mal por até Manuela Carmena a criticar...

 

Amândio G. Martins