domingo, 26 de julho de 2015

Crónicas de um dia de verão e algumas rimas


Crónica de um dia de verão – I

Sabemos e soubemos que muitos casais trocam de parceiro em busca da ‘arca perdida’, para, no fim, ser a perda total, uma vez que a vida de entre eles não voltará a ser igual, dado que ninguém confiará em ninguém, pois nada é verdadeiro, uma vez que não é com sofismas que se alicerça algo mais positivo e sólido, mas, isso sim, com a degradação total do ser enquanto se considerar humano, pois, assim, só a besta chegará.
Entretanto, soubemos também que mais uma vez a mama pública vai dar de mamar ao ensino privado, no montante astronómico de 53 milhões de euros.
E o que dizem as forças políticas opositoras acerca deste regabofe?
Eu também gostaria de ser comensal diário do Restaurante Tavares Rico, todavia, quando como fora, vou à tasca do lado que me faz muito mais barato e não obrigo os meus vizinhos a pagarem-me outros luxos.
Irra, que já estou com corrosivos refluxos gástricos, por causa destes e de outros descaramentos que vou sabendo e alimentando.

Crónica de um dia de verão – II

Dei comigo a pensar – mais uma vez – em que esta nossa sociedade se tornou: uma sociedade de desenfreado consumo, com desejos poucos saudáveis e desperdícios que raiam um crime humanitário e planetário.
Dizem-nos que nesta sociedade se passa fome – e passa –, mas não são aquelas criaturas que aparecem em ‘manifestações espontâneas’, às horas dos telejornais, que de tal desgraça padecem.
Há sim fome naquela pobreza envergonhada que não tem holofotes televisivos, nem filantropos bastantes para extinguir tal flagelo.
Num antigamente muito recente, a fome era tanta, que até essa maldita fome se alimentava do pouco colesterol e das banhas das poucas barrigas com pneu. Era quase tudo pele e osso.
Hoje em dia, o desperdício pecaminoso dava para manter mais bocas carentes de pão do que nesses idos tempos. Todavia, muita subsidiodependência olha para tal como um direito adquirido negativista, enquanto os maus políticos jogam com esse pau de dois bicos, uma vez que cada voto popular vale 3,5 euros.
É pois na ambiguidade e na ignorância que está o ganho para os políticos, e a desgraça colectiva para aqueles que neles acreditam e votam.

Crónica de um dia de verão – III

Dizem os doutores, os sábios e outros senhores que a Terra, que nos foi entregue de mão beijada para a habitarmos até ao fim das nossas materiais vidas, está a chegar ao fim dos tempos, preste a ‘dar o corpo ao manifesto’.
E, de facto, parece que assim é: os desmandos do homem contra a Natureza têm sido por de mais nas últimas décadas.
Agora, quer ‘dar o salto’ até ao ‘planeta gémeo’ que ora descobriu – o Kepler.
Mas, como lá chegar? As uvas não estarão ainda verdes, como na fábula da manhosa raposa?

É de ‘arrebimba o malho’

Os programas televisivos
De cariz popular
São momentos festivos
Para o povo se alegrar.

São ‘O Verão Total’
E o ‘Portugal em Festa’,
Com ‘Somos Portugal’,
Outro qualquer não presta.

É música d’arrebimba o malho’
E mais pimbalhadas mil,
Como ‘O bacalhau quer alho’,
Tudo rimas do baril.

E as chamadas telefónicas
Dos sessenta cêntimos mais Iva?
São ligações antagónicas
De múltipla tentativa,
De ao povinho tudo sacar,
Com os mesmos sempr’engordar.


José Amaral

1 comentário:

  1. Caro Amigo José Amaral - Faz bem em juntar a poesia aos comentários, tal como o grande Miguel Torga o faz nos seus diários. Somos um país de poetas e é preciso continuar as cultivar as musas. Um abraço lusitano.

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