quinta-feira, 23 de julho de 2015

GRISE NA GRÉCIA - UMA TRAGÉDIA GREGA OU UM PRESENTE DE GREGO AO SISTEMA EUROPEU?

Muito conhecidas de todos as enormes dificuldades econômicas  que a nação Helênica, berço da civilização ocidental, vem atravessando, há algum tempo, agravado pelas dividas astronômicas e pelas imposições restritivas, sufocantes e austeras  da denominada “Troika”(  palavra russa que designa um comitê de três membros), usada neste caso pejorativamente para designar  a  Comissão Europeia(CE), o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional(FMI).
A história da humanidade tem retratado que as dificuldades econômicas têm sido um caldo de cultura para aparecimento dos chamados “Sassás Mutemas”(“salvadores da pátria”-personagem vivida pelo ator Lima Duarte em uma novela brasileira), alguns de forma ditatorial(Hitler, Mussolini....) e outros que, embora bem intencionados, mas sem nenhum preparo, e que jamais teriam chance de alcançar o  governo, se o país não tivesse atravessando momentos de forte crise.
Na Grécia não foi diferente, o engenheiro civil Aléxis Tsípras (40 anos), com a fantasiosa  e impossível promessa que não permitiria e baniria qualquer  intervenção da “Troika” no governo grego, foi designado Primeiro Ministro, após eleições parlamentares, na qualidade de presidente do partido de esquerda Synaspismos (SYN) e líder da Coligação da Esquerda Radical (SYRIZA).
Ao assumir o cargo de primeiro ministro, Tsípras ficou de frente com a fria realidade da situação, o buraco era bem mais em baixo do que ele imaginava, sentindo na carne os efeitos daquela máxima de todos conhecida: “Na prática a teoria é outra”. Em um aparente gesto de habilidade politica jogou ao povo a decisão de aceitar ou não a interferência da Troika, através de um referendo, em que venceu o “não”, com aproximadamente 60% dos votantes.
Tsipras na iminência  de levar a Grécia a um situação total  de insolvência com consequente possibilidade de contaminação de toda zona do Euro, traiu os seus princípios e suas promessas eleitorais, o que é pior, mudou o resultado do referendo  de “não” para “sim”, ao se curvar as condições  impostas pela Comissão Europeia  com respaldo do parlamento grego, em situação pior, segundo analistas, do que os seus antecessores que tanto por ele foi combatido. Sendo hoje taxado na Grécia pelos seus eleitores como um traidor dos ideais patrióticos de autonomia econômica do país.
As promessas eleitorais chocam com a visão que todo governo tem que ter em mente, que não pode ser burlada, sob pena de ver país mergulhado numa situação pior do que a encontrada, do chamado “princípio do mal necessário”. Nesta esteira, ele só percebeu quando no poder, que é infinitamente menos mal manter o Euro do que retroceder ao Dracma (antiga moeda grega).
 Tsípras vai ter imensa dificuldade em se manter no poder, as manifestações já começaram com grande intensidade, e o pior, permanecendo,  vai ter que governar convivendo com um programa  a ele imposto, que  fere seus ideais, suas promessas e a esmagadoramente vontade do povo expresso no referendo.
 As origens da imensa dívida grega nos remetem à histórica e bíblica  cidade de Corinto situada no norte da região do  Peloponeso ( península ao sul da Grécia), esta cidade hoje uma pequena vila, chegou a alcançar 600.000 habitantes na antiguidade, devido a sua posição estratégica, pela ligação com a parte principal da Grécia por uma estreita faixa rochosa de largura média de 6.500 metros, chamado de Istmo de Corinto, à esquerda ficava o  golfo que leva o nome da cidade, ligando-a ao mar Jônico, com acesso aos navios das nações  ocidentais, à direita o mar Egeu,  acolhendo as embarcações vindas do oriente médio, o local era conhecido desde os tempos mais antigos, tinha dois portos (um de cada lado) , era lugar para transposição de mercadorias.
O sonho de todos os governantes, desde o império romano, era construir um canal que desse acesso aos dois mares; a obra foi iniciada em 1881 e concluída em  1893 a custos elevadíssimos, com 6.500 metros de comprimento, com largura em torno de 22 metros, com paredão íngreme nas laterais com altura média de 50 metros.
Apesar de ser considerada uma das grandes obras de engenharia, economicamente foi verdadeiro desastre para Grécia, muito estreito para grandes embarcações, com uma dispendiosa manutenção, tendo em vista os constantes deslizamentos, nas suas paredes quase verticais, com imensos gastos por ter que ser reconstruído  em partes, pela destruição imposta pelo exercito nazista, por ordem expressa de Hitler, quando da retirada das forças alemãs do território grego.
As autoridades gregas minimizam a falta de retorno econômico  nesta obra, pelo intenso turismo na região; pessoalmente tenho um ponto de vista que esse turismo seria igual ou maior sem este canal, pois a maioria de visitantes no local se deve às caravanas religiosas visando visitar a cidade em que o Profeta Paulo morou ( fazendo tendas para se manter) por 18 meses. Seria muito mais chamativo ver o istmo como o autor da Carta aos Coríntios  o viu no passado.
Até que me prove o contrário, acho muito temerária a circulação turística por este canal, por se tratar de uma região de alta atividade sísmica, com deslizamentos  constantes, intensa corrente de vento canalizado e o efeito muito acentuado da falta de sintonia das  marés do mar Jônico com o Egeu, e para quem é supersticioso, o filósofo Apolônio de Tiana, no primeiro século da era cristã, profetizou que o mal se abateria sobre quem propôs a cavar um canal em Corinto.
 Após a construção do canal, a Grécia teve de fazer grande investimento financeiro na sua invasão na Turquia, no termino da primeira grande guerra, através da cidade de Esmirna, tentando recuperar os territórios da Grécia antiga, hoje sob domínio turco, visando resgatar, além desta cidade, Troia, Éfeso, toda antiga trácia oriental e a própria península de Anatólia, conhecida antigamente como Lídia, onde, após intensas batalhas foi fragorosamente derrotada pelos nacionalistas turcos comandados por Mustafa Kemal, o Atatürk.
A dívida sofreu aumento  considerável com a reconstrução do estrago deixado pelos nazistas na segunda guerra,  só não foi pior porque houve ordem de Hitler para poupar Atenas,   finalmente os imensos empréstimos para financiar a disputa da ilha de Chipre com a Turquia, e pela construção da ponte de 2.800 metros sobre Golfo de Corinto ligando a cidade de    Rio, no Peloponeso,  à cidade de Antirio, na Grécia continental, considerada a 2ª maior ponte estaiada do mundo.
A dívida grega, apesar de ter começado no passado, como relatado acima, foi muito agravada com as despesas por ter  sido  o país sede das Olímpiadas de 2004 (alvo inclusive de muitas denuncias de corrupção), chegando a limites insuportáveis com o esquema idealizado para o salvamento dos grandes bancos privados europeus, afetados pela bolha de 2008, acumulando-se continuamente em função dos malfadados  juros sobre juros.

Este país detentor de tantas glórias, com extraordinária contribuição para formação moral e cultural das nações ocidentais, infelizmente se acha num beco sem saída, além de ser  detentor da maior divida proporcional do planeta (175,1% do PIB), considerada pelo próprio  FMI como insustentável, tem a sua situação bastante agravada pela falta de credibilidade de um governo fruto de promessas eleitorais fora da realidade.    

Sem comentários:

Enviar um comentário

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.