Muito conhecidas de todos as
enormes dificuldades econômicas que a
nação Helênica, berço da civilização ocidental, vem atravessando, há algum
tempo, agravado pelas dividas astronômicas e pelas imposições restritivas,
sufocantes e austeras da denominada “Troika”(
palavra russa que designa um comitê de três membros), usada neste caso
pejorativamente para designar a Comissão Europeia(CE),
o Banco Central
Europeu (BCE) e o Fundo
Monetário Internacional(FMI).
A história da humanidade tem
retratado que as dificuldades econômicas têm sido um caldo de cultura para
aparecimento dos chamados “Sassás Mutemas”(“salvadores da pátria”-personagem
vivida pelo ator Lima Duarte em uma novela brasileira), alguns de forma
ditatorial(Hitler, Mussolini....) e outros que, embora bem intencionados, mas
sem nenhum preparo, e que jamais teriam chance de alcançar o governo, se o país não tivesse atravessando
momentos de forte crise.
Na Grécia não foi diferente, o
engenheiro civil Aléxis Tsípras (40 anos), com a fantasiosa e impossível promessa que não permitiria e
baniria qualquer intervenção da “Troika”
no governo grego, foi designado Primeiro Ministro, após eleições parlamentares,
na qualidade de presidente do partido de esquerda Synaspismos (SYN)
e líder da Coligação da Esquerda Radical (SYRIZA).
Ao assumir o cargo de primeiro
ministro, Tsípras ficou de frente com a fria realidade da situação, o buraco era
bem mais em baixo do que ele imaginava, sentindo na carne os efeitos daquela
máxima de todos conhecida: “Na prática a teoria é outra”. Em um aparente gesto
de habilidade politica jogou ao povo a decisão de aceitar ou não a
interferência da Troika, através de um referendo, em que venceu o “não”, com
aproximadamente 60% dos votantes.
Tsipras na iminência de levar a Grécia a um situação total de insolvência com consequente possibilidade
de contaminação de toda zona do Euro, traiu os seus princípios e suas promessas
eleitorais, o que é pior, mudou o resultado do referendo de “não” para “sim”, ao se curvar as
condições impostas pela Comissão
Europeia com respaldo do parlamento
grego, em situação pior, segundo analistas, do que os seus antecessores que
tanto por ele foi combatido. Sendo hoje taxado na Grécia pelos seus eleitores
como um traidor dos ideais patrióticos de autonomia econômica do país.
As promessas eleitorais chocam
com a visão que todo governo tem que ter em mente, que não pode ser burlada,
sob pena de ver país mergulhado numa situação pior do que a encontrada, do
chamado “princípio do mal necessário”. Nesta esteira, ele só percebeu quando no
poder, que é infinitamente menos mal manter o Euro do que retroceder ao Dracma (antiga
moeda grega).
Tsípras vai ter imensa
dificuldade em se manter no poder, as manifestações já começaram com grande
intensidade, e o pior, permanecendo, vai
ter que governar convivendo com um programa a ele imposto, que fere seus ideais, suas promessas e a esmagadoramente
vontade do povo expresso no referendo.
As origens da imensa dívida grega nos remetem à
histórica e bíblica cidade de Corinto
situada no norte da região do Peloponeso ( península ao sul da Grécia),
esta cidade hoje uma pequena vila, chegou a alcançar 600.000 habitantes na
antiguidade, devido a sua posição estratégica, pela ligação com a parte
principal da Grécia por uma estreita faixa rochosa de largura média de 6.500
metros, chamado de Istmo de Corinto, à esquerda ficava o golfo que leva o nome da cidade, ligando-a ao mar
Jônico, com acesso aos navios das nações ocidentais, à direita o mar Egeu, acolhendo as embarcações vindas do oriente
médio, o local era conhecido desde os tempos mais antigos, tinha dois portos
(um de cada lado) , era lugar para transposição de mercadorias.
O sonho de todos os governantes,
desde o império romano, era construir um canal que desse acesso aos dois mares;
a obra foi iniciada em 1881 e concluída em
1893 a custos elevadíssimos, com 6.500 metros de comprimento, com
largura em torno de 22 metros, com paredão íngreme nas laterais com altura média
de 50 metros.
Apesar de ser considerada uma das
grandes obras de engenharia, economicamente foi verdadeiro desastre para Grécia,
muito estreito para grandes embarcações, com uma dispendiosa manutenção, tendo
em vista os constantes deslizamentos, nas suas paredes quase verticais, com
imensos gastos por ter que ser reconstruído em partes, pela destruição imposta pelo
exercito nazista, por ordem expressa de Hitler, quando da retirada das forças
alemãs do território grego.
As autoridades gregas minimizam a
falta de retorno econômico nesta obra,
pelo intenso turismo na região; pessoalmente tenho um ponto de vista que esse
turismo seria igual ou maior sem este canal, pois a maioria de visitantes no
local se deve às caravanas religiosas visando visitar a cidade em que o Profeta
Paulo morou ( fazendo tendas para se manter) por 18 meses. Seria muito mais
chamativo ver o istmo como o autor da Carta aos Coríntios o viu no passado.
Até que me prove o contrário,
acho muito temerária a circulação turística por este canal, por se tratar de
uma região de alta atividade sísmica, com deslizamentos constantes, intensa corrente de vento canalizado
e o efeito muito acentuado da falta de sintonia das marés do mar Jônico com o Egeu, e para quem é
supersticioso, o filósofo Apolônio de Tiana, no primeiro século da era
cristã, profetizou que o mal se abateria sobre quem propôs a cavar um
canal em Corinto.
Após a construção do canal, a Grécia teve de fazer
grande investimento financeiro na sua invasão na Turquia, no termino da primeira
grande guerra, através da cidade de Esmirna, tentando recuperar os territórios
da Grécia antiga, hoje sob domínio turco, visando resgatar, além desta cidade,
Troia, Éfeso, toda antiga trácia oriental e a própria península de Anatólia,
conhecida antigamente como Lídia, onde, após intensas batalhas foi
fragorosamente derrotada pelos nacionalistas turcos comandados por Mustafa Kemal,
o Atatürk.
A dívida sofreu aumento considerável com a reconstrução do estrago
deixado pelos nazistas na segunda guerra, só não foi pior porque houve ordem de Hitler
para poupar Atenas, finalmente os imensos empréstimos para
financiar a disputa da ilha de Chipre com a Turquia, e pela construção da ponte
de 2.800 metros sobre Golfo de Corinto ligando a cidade de Rio, no Peloponeso,
à cidade de Antirio, na Grécia continental,
considerada a 2ª maior ponte estaiada do mundo.
A dívida grega, apesar de ter
começado no passado, como relatado acima, foi muito agravada com as despesas por
ter sido o país sede das Olímpiadas de 2004 (alvo
inclusive de muitas denuncias de corrupção), chegando a limites insuportáveis
com o esquema idealizado para o salvamento dos grandes bancos privados europeus,
afetados pela bolha de 2008, acumulando-se continuamente em função dos
malfadados juros sobre juros.
Este país detentor de tantas
glórias, com extraordinária contribuição para formação moral e cultural das
nações ocidentais, infelizmente se acha num beco sem saída, além de ser detentor da maior divida proporcional do planeta
(175,1% do PIB), considerada pelo próprio FMI como insustentável, tem a sua situação
bastante agravada pela falta de credibilidade de um governo fruto de promessas
eleitorais fora da realidade.
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