Vamos ver se nos entendemos, se
acordamos ou se temos coragem de encarar a realidade. Há dias, de propósito, ao
fazermos uma incursão sobre o problema grego, deixámos para trás o FMI, para
que fosse observado noutro momento. Vamos agora ao assunto.
Pessoas mais ou menos opacas, e
talvez por isso bem posicionadas e com cátedra, ao serviço duma sociedade que
cultiva ostensivamente a desigualdade, que vivem num mundo ideal que as
sustenta e as protege, tecem loas sobre a bondade da instituição FMI, que socorre,
em momentos críticos, alguns países em dificuldades financeiras e económicas,
após prolongadas análises e um rol enorme de burocracias que inferiorizam o
país pedinte. Vamos ver se nos entendemos. O FMI e toda a sua corte vivem à
custa das situações críticas geradas nesses países e só isso é que justifica a
sua existência. Os salários ostensivos que auferem os seus directores e
funcionários são consequência dos juros e encargos suportados pelos países que
contraem os empréstimos. Logo, a arrogância que algumas vezes é exibida pelos
actores principais desta farsa, agentes do FMI e a vergonhosa postura dos
actores secundários, os representantes da nação devedora, são uma ridícula
comédia que se transforma em drama.
Qualquer entidade que empresta
dinheiro a juros não faz favores, faz negócio e vive à custa do rédito dos
empréstimos. Não há favores, há negócio, e é o devedor que alimenta o credor, e
isto tanto no caso dos privados como das instituições ou países. Logo começa a
ser tempo de tratar os bois pelos nomes e quem empresta, e fica à espera que
lhe paguem, deve ter sempre em conta o esforço que é preciso desenvolver para conseguir
um crescimento económico suficiente para dele retirar um oneroso encargo
financeiro, muitas vezes insuportável. Deixemo-nos de rodriguinhos e, como
humanistas, vamos dar a mão aos nossos irmãos.
Transcrevo do meu livro,
“Crónicas da Lucidez”, porque vem a propósito: “Tal como o sangue circula no
corpo e é necessário à vida, assim se pensou que a moeda, o dinheiro, seria o
alimento que daria substância à sociedade, ou, mais profundamente à actual
civilização. Sem regras devidamente estruturadas, sem ética, e sem moral, sem
finalidades sociais, as repúblicas, copiando-se sucessivamente, deixaram que
grupos de usurários comandassem a economia, e que retirassem dos empréstimos um
proveito superior ao aumento real da produção de bens. Assim, não há volta a
dar, e as dívidas (que nos deixam muitas dúvidas da forma como foram
constituídas) não podem ser liquidadas.”
8.07.2015
Joaquim Carreira Tapadinhas, Montijo
Um agradecimento à Céu, por ter melhorado a apresentação do texto, inserindo uma foto da capa do livro referido. Um gesto simpático que muito me sensibilizou. O artigo foi escrito no dia 28.07.2015 e não em 8.07.2015, como aparece no final junto do meu nome.Um forte abraço lusitano.
ResponderEliminarGostei de saber que 'Crónicas da Lucidez' são da sua autoria, pelo que feliz me sinto por estar no meio de pessoas de muita cultura, uma vez que me sinto um MARGINAL de entre os demais.
ResponderEliminarUm fraterno abraço.
Publicado hoje, dia 3 de Agosto de 2015, no jornal Público, com um corte insignificante.
ResponderEliminarPublicado hoje, dia 3 de Agosto de 2015, no jornal Público, com um corte insignificante.
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