Dos pequenos
grandes poderes
Num livro divertidíssimo editado em Portugal pela “Planeta”,
John Cleese, dos Monty Python, descreve os mais inacreditáveis episódios por
que passou ao longo da vida, de que tomei a liberdade de “escolher” o que
segue, por demonstrar ser possível encontrar um burocrata idiota em qualquer
parte do mundo, desde o sítio mais recondito à mais evoluída das nações.
“Por causa de um novo espectáculo, tive de recorrer a um
Gabinete de Imigração em Chicago para prolongar o meu visto de trabalho;
esperava que aquilo não fosse mais que
uma questão de rotina e preenchi cuidadosamente o formulário, que entreguei ao
funcionário da Imigração, um tipo com cerca de cinquenta anos, a que se seguiu
o seguinte diálogo:
-Você é britânico?
-Sim.
-O que é isto, então?
-Isso é a minha nacionalidade.
-Você disse que era britânico.
...Sim, e então?
-Você é ucraniano?
...Ucraniano?
-Aqui está escrito “UK”.
-Ah! Não, isso é Reino Unido.
-O... quê?
-Reino Unido. Inglaterra, Escócia, País de Gales...
-UK é Ucrânia.
-Não. Está a ver quando há debates no Conselho de Segurança,
o embaixador britânico tem um pequeno letreiro à frente que diz “United
Kingdom? UK...
-UK é Ucrânia. Você é ucraniano?
-Não, mas...
-Corrija isso, por favor. Há uma lei contra dar informações
falsas.”
Este membro do famoso grupo humorista britânico revela a sua
incredulidade porque a pessoa com quem falava era funcionário com experiência,
um homem cuja profissão já levava muitos anos de interacções com cidadãos
estrangeiros...
“E ele não estava só “convicto” de que UK era uma
abreviatura de Ucrânia. “Sabia” que era asssim com o mesmo grau de certeza que
tinha quanto à realidade da sua própria existência. Ali estava um idiota de
uniforme do mais alto nível, tão incomparavelmente bronco que não tinha disso a
mais ínfima noção!
Amândio G. Martins
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