O Animal Feroz quer sangue. Não lhe interessa se as vítimas são culpadas ou inocentes, se teve ou não teve responsabilidade na destruição do Rebanho, se devia ou não devia afastar-se por mais algum tempo, respeitando as leis não escritas da honestidade política.
José Sócrates voltou da pior forma possível: com uma atitude arrogante, raivosa, abocanhando quem lhe surgia à frente, fossem os jornalistas que o tentaram entrevistar, fossem os antagonistas políticos que acusa de propagarem uma " Narrativa" contra ele. Vi-o na Televisão e a imagem que me surgiu foi a de um qualquer Lobo Mau dos contos infantis que, depois de ter devorado a avozinha perante a nossa estupefacção se sentaria na cadeira, poria os óculos, faria um ar compungido e começaria a contar-nos uma História em que ele era a vítima que foi obrigada a comer, aos pedaços, a pobre idosa.
A Narrativa Socrática - o que diria o grande Sócrates da Grécia clássica, que admitia as fragilidades próprias nos diálogos com os seus discípulos, em busca da verdade, deste mestre da mentira e da mistificação - é coxa e pobre. O Governo Sócrates tomou medidas que ignoraram a precária situação económica do país, desde o aumento desmesurado dos salários dos funcionários públicos até os ruinosos acordos das Parcerias Público-Privadas, que oneraram, por décadas, a população portuguesa.
Se é aceitável que Sócrates não é responsável por tudo - e aqui a lista de responsáveis nunca acaba, de Cavaco a Guterres, passando por Santana e pelos inevitáveis efeitos da crise internacional - também é indesmentível que ele deu à catástrofe um empurrão definitivo. Cavaco pode ter sido
a mão que esteve por trás dos arbustos da crise, na curiosa declaração que proferiu na entrevista, mas José Sócrates corporizou e protagonizou o descalabro financeiro.
No meio de todo o estardalhaço provocada pelo seu regresso, já há um Cordeiro Pascal pronto a ser sacrificado. António José Seguro deixou, a partir da entrevista do ex-primeiro ministro socialista, de ser um líder a prazo para se tornar num líder fora de validade.
O país, que já não suporta a incompetência do génio financeiro Gaspar ou a languidez inútil do Senhor Passos Coelho, tem agora, no seu Zoo político particular, um Animal de garras afiadas. Para quando, pergunto num misto de desesperança e incredulidade, um primeiro ministro normal que lidere um Governo eficaz, composto por gente que saiba governar este povo sem o enganar ou explorar de uma forma mais ou menos escabrosa ? Para quando ????
Rui Marques
Este é um artigo de quem sente a pátria no coração e não tem medo de proclamar bem alto o seu repudio por todos os que, por negligência, incapacidade ou cupidez, criaram a tumba onde a mesma irá repousar até que surja uma Páscoa. O nosso grande problema é que a Assembleia da República, na sua composição, pelos meios artificiosos como são escolhidos os deputados, não representa os interesses legítimos do povo e da nação. Não há leis para castigar, em tempo útil os prevaricadores. A Justiça é uma lástima.
ResponderEliminarSó os mesquinhos são castigados e os poderosos, de recurso em recurso, conseguem protelar as penas, muitas vezes até à prescrição. É doloroso viver neste ambiente, mas acreditamos que há-de surgir uma nova aurora, a não ser que esta civilização esteja consumida.