terça-feira, 2 de abril de 2013

A Narrativa Pascal do Animal Feroz




O Animal Feroz quer sangue. Não lhe interessa se as vítimas são culpadas ou inocentes, se teve ou não teve responsabilidade na destruição do Rebanho, se devia ou não devia afastar-se por mais algum tempo, respeitando as leis não escritas da honestidade política. 
José Sócrates voltou da pior forma possível: com uma atitude arrogante, raivosa, abocanhando quem lhe surgia à frente, fossem os jornalistas que o tentaram entrevistar, fossem os antagonistas políticos que acusa de propagarem uma " Narrativa" contra ele. Vi-o na Televisão e a imagem que me surgiu foi  a de um qualquer  Lobo Mau dos contos infantis que, depois de ter devorado a avozinha perante a nossa estupefacção  se sentaria  na cadeira, poria  os óculos, faria  um ar compungido e começaria  a contar-nos uma História em que ele era  a vítima que foi obrigada  a comer, aos pedaços, a pobre idosa.

A Narrativa Socrática - o que diria o grande Sócrates da Grécia clássica, que admitia as  fragilidades próprias nos diálogos com os seus discípulos, em busca da verdade,  deste mestre da mentira e da mistificação  - é coxa e pobre. O Governo Sócrates tomou medidas que ignoraram a precária situação económica do país, desde o aumento desmesurado dos salários dos funcionários públicos até os  ruinosos acordos das Parcerias Público-Privadas, que oneraram, por décadas, a população portuguesa. 
Se é aceitável que Sócrates não é responsável por tudo - e aqui a lista de responsáveis nunca acaba, de Cavaco a Guterres, passando por Santana e  pelos inevitáveis efeitos da crise internacional - também é indesmentível que ele deu à catástrofe um empurrão definitivo. Cavaco pode ter  sido
 a mão que esteve  por trás dos arbustos da crise, na curiosa declaração que proferiu na entrevista,  mas José Sócrates corporizou e protagonizou o descalabro financeiro. 
No meio de todo o estardalhaço provocada pelo seu regresso, já há um Cordeiro Pascal pronto a ser sacrificado. António José Seguro deixou, a partir da entrevista do ex-primeiro ministro socialista, de ser um líder a prazo para se tornar num líder fora de validade. 
O país, que já não suporta a incompetência do génio financeiro Gaspar ou a languidez inútil do Senhor Passos Coelho, tem agora, no seu Zoo político particular, um Animal de garras afiadas. Para quando, pergunto num misto de desesperança e incredulidade, um primeiro ministro normal que lidere  um  Governo eficaz, composto por   gente que saiba governar este povo sem o enganar ou explorar de uma forma mais ou menos escabrosa  ? Para quando ????

Rui Marques 

  
                           

1 comentário:

  1. Este é um artigo de quem sente a pátria no coração e não tem medo de proclamar bem alto o seu repudio por todos os que, por negligência, incapacidade ou cupidez, criaram a tumba onde a mesma irá repousar até que surja uma Páscoa. O nosso grande problema é que a Assembleia da República, na sua composição, pelos meios artificiosos como são escolhidos os deputados, não representa os interesses legítimos do povo e da nação. Não há leis para castigar, em tempo útil os prevaricadores. A Justiça é uma lástima.
    Só os mesquinhos são castigados e os poderosos, de recurso em recurso, conseguem protelar as penas, muitas vezes até à prescrição. É doloroso viver neste ambiente, mas acreditamos que há-de surgir uma nova aurora, a não ser que esta civilização esteja consumida.

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