A
felicidade sempre foi o grande anseio da humanidade. Há quem não Acredite em
sua existência, por confundi-la com momento de prazer, ao invés de tê-la como
um estado de plenitude interior (fecundidade, contentamento), como indica o
verdadeiro sentido do vocábulo latino que lhe deu origem
(felicitas-felicitatis).
Na língua
francesa, embora havendo a palavra “félicité” oriunda do Latim, surgiu o termo
mais usual “le bonheur”, com significado de boa sorte, acaso favorável, que
traduz fielmente o errôneo entendimento popular, segundo o qual, somente pode
existir o fugaz instante prazeroso, o momento favorável, e jamais algo
duradouro.
O poeta
paulista Vicente de Carvalho vê a felicidade como coisa exterior. Diz, em seu
belo soneto “Esperança”, que ela existe, sim, mas é algo distante – “uma árvore
de dourados pomos, que está sempre onde a pomos, e nunca a pomos onde nós
estamos”. Vale dizer, não se consegue saborear os frutos dessa árvore.
O ser
humano não vive o presente, não busca o reino do céu dentro de si mesmo. Está
sempre sonhando com algo externo, ou seja, um tempo futuro; um céu longínquo
depois desta existência; um casamento; um divórcio; uma conquista de bens
materiais; uma saúde completa e outras coisas mais. Enfim, faz a felicidade
depender de circunstâncias externas, quando ela somente pode ser causada por
sua substância interna, como ensina o grande filósofo espiritualista e pensador
cristão Huberto Rohden, em seu livro “O Caminho da Felicidade”: “ninguém pode
ser feliz se não sacrificar a sua felicidade pela felicidade dos outros”, isto
é, só a prática do amor faz o homem feliz.
Este
renomado escritor brasileiro, internacionalmente conhecido, foi chamado a
Portugal no ano de 1976, para proferir conferências, e criou em Lisboa um grupo
de estudos de auto-realização.
Alberto
Schweitzer, consagrado músico, resolveu deixar o conforto da Europa, em cujos
anfiteatros era freneticamente aplaudido, e depois de formar-se em medicina embrenhou-se
na África equatorial, para prestar serviços ao povo mais sofrido do planeta.
Uma voz interior dizia-lhe que precisava pagar a Deus a grande felicidade que
sentia. Um dia resolveu fazer o pagamento, trocando as luzes da Alemanha pelas
trevas do Gabão, e, ao se despedir, agradecendo a ajuda recebida para a
construção dos primeiros hospitais, disse ao pai, que era ministro evangélico:
“não vou para África pregar o Evangelho e, sim, viver o Evangelho”.
O apóstolo
Paulo proclama (II Coríntios, 7.4): “Eu me transbordo de júbilo no meio de todas
as tribulações”, demonstrando que se pode ser feliz mesmo no sofrimento. Na sua
carta aos filipenses (4.11), afirma que aprendeu a viver contente em qualquer
situação. Interessante notar que seu contentamento foi fruto de um aprendizado
e segundo Lao Tse, filósofo chinês que viveu no século VI antes de Cristo,
“rico é quem vive contente”.
Mensagem
atribuída ao espírito Cardeal Morlot, no “Evangelho Segundo o Espiritismo”,
Cap. V, item 20, declara que a felicidade completa ainda não é deste mundo tão
cheio de misérias, mas aqui se pode experimentar uma felicidade relativa, desde
que não se fique invejando os outros, principalmente os ricos, já que estes nem
sempre são contentes. Um dia, quando a Lei do progresso promover a evolução
espiritual da humanidade, a palavra felicidade não será vã, afirma o espírito.
Realmente,
a inveja é fruto do descontentamento e por isso constitui um óbice à conquista
da felicidade. Machado de Assis, em seu conhecido soneto “Círculo Vicioso”,
retrata o vagalume invejando a luz da estrela, e esta deseja ser a lua, tão
decantada em prosa e verso pelos enamorados. A lua, por sua vez, pretende ser o
sol, e este, enfarado de sua luminosidade, diz: Por que não nasci eu um simples
vagalume!?!
É preciso
aprender a ser contente, lembrando o ensinamento do apóstolo dos gentios. Há
sempre um vazio dentro de cada criatura humana, que precisa ser preenchido por
ela mesma. O poeta francês Chateubriand assevera que o coração do ser humano é
um instrumento incompleto, uma lira onde sempre falta alguma corda, e seu canto
natural é sempre triste, daí ser necessário colocar o tom da alegria na nota da
tristeza.
Em face da
lei de causa e feito que rege o mundo físico e metafísico, ninguém sofre sem
motivo, por isso cada um deve purgar suas culpas da melhor maneira possível, e
resgatar seus débitos, em todas as expiações, sem revolta, para que a
felicidade surja, como conquista sua, com a graça de Deus e ajuda dos
benfeitores espirituais, os anjos de guarda que nunca nos abandonam.
Vivaldo
Jorge de Araújo, ex-professor de História e Língua Portuguesa do Lyceu de
Goiânia, escritor e agente aposentado do Ministério Público do Estado de Goiás,
no Brasil.
Claro que existe FELICIDADE neste mundo! Já, em 25/5/1988, tinha cogitado que: QUANDO SE TEM SAÚDE, A FELICIDADE JÁ É GRANDE.
ResponderEliminarQuem se lembra de Ghandi, hoje? Só os bem intencionados que procuram o caminho da paz e do respeito pelo semelhante!
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