segunda-feira, 4 de maio de 2015

O BÓNUS




A D. Maria da Neves e o Senhor Augusto - com o mesmo apelido - partilharam nos últimos quatro anos, em modo forçado, metade dos seus rendimentos de reforma para apoiar os filhos em dificuldade.

O Zé António Balbino, e a esposa que Balbina é, entregaram a casa ao banco por incumprimento de crédito. Foram eles e os catraios para casa dos pais, casal aposentado.

O Zézinho Papaléguas e a namorada – que ainda não partilham apelido – doutorados e pós-doutorados, fizeram-se à descoberta de novas cartografias.

O Senhor Doutor Abel Rato – divorciado antes das intempéries – deu-lhe um esgotamento de doentes em demasia no centro de saúde, e abalou para o conforto de uma instituição de saúde privada.

Ao Manuel Honório – de relações dúbias, e portanto sem partilha de apelidos com mais ninguém – professor de matemáticas no ensino público, fizeram-no excedentário e anda agora a arrastar a asa pelos botequins.

O Amilcar e a Joaquina – colegas de viatura nas rondas da PSP da esquadra em que servem – estão a pagar, os dois juntos e apesar de géneros e tamanhos diferentes, a mesma farda e os apetrechos, para cumprirem com zelo a missão nobre que lhe cabe em profissão.

O que é que toda esta gente maravilhosa tem em comum?

O facto da Senhora Ministra das Finanças não os considerar elegíveis para receberem um bónus pelo esforço, abnegação, e profissionalismo no contributo para a arrecadação de receitas e também não terem tido a sorte de serem funcionários do Ministério das Finanças.

E o que é que eles ainda têm mais em comum?

O facto de estarem a assistir impávidos e vegetativos a um acto de corrupção activa.

E o que é que nenhum deles tem em comum?

Não serem cidadãos empreendedores e bons profissionais, exemplos dos exemplos, como aquele amigo de Aguiar da Beira, uma referência para o primeiro ministro, que na adversidade de ver as poupanças perdidas num banco de duvidosa proveniência, conseguiu com esforço, ousadia e persistência, reconstruir uma vida do nada, lá fora, no desconhecido da adversidade.

  

2 comentários:

  1. Comentário oportuno de crítica à decisão do Governo de "gratificar" os funcionários que se dedicam a extorquir multas e impostos, ao cidadão em dificuldade, sem dó nem piedade. A desumanidade está implantada e, neste país, começa a ser impossível viver de cabeça erguida.

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