Valei-nos, Zé do Telhado.
*Cristiane Lisita
Zé
do Telhado tornou-se lendário por ser uma espécie de Robin Hood, ou Robin dos
Bosques. Um notório herói nas terras lusas. José Teixeira da Silva nasceu em 1816, na
freguesia de Castelões de Recesinhos, em Penafiel. Tratava-se de intrépido
militar vindo a compor os Lanceiros da Rainha. Chegou a ser condecorado por atos
de bravura, tendo, inclusive, defendido a vida do general Sá da Bandeira, quando
participou da Revolução da Maria da Fonte ou a Revolta do Minho, em 1846.
O
fenecimento da guerra civil acarreou sucessivos problemas financeiros, episódio
que, supostamente, teria instigado Zé do Telhado a assaltar os abastados e a doar,
assim, aos indigentes, suprindo, todavia, suas necessidades. Reza a história
que o homem transformou-se num denso conhecedor das várias regiões do Douro e
praticamente do Vale do Tâmega nas visitas, sem ‘hora marcada’, pela porta da
frente, mormente aos grandes senhores rurais. Era praxe se fazer escoltar por
Joaquim do Telhado, seu irmão, e companheiros resistindo às iniquidades e às
desventuras.
Visto
tantas vezes na dualidade: para os pobres um benfeitor generoso; para os
influentes, uma ameaça. Destarte, um cavalheiro, fato esse que teria angariado
a simpatia até mesmo de certas ricas senhoras, vitimas dele. Foi preso e degredado
para Angola, falecendo em 1875. Contudo, sua memória prossegue acesa a cada dia
em que se paga mais impostos, em que o desemprego arremessa mendigos pelas
ruas, os postos de trabalho são encurtados, as pensões perdem o valor, o
comércio fecha.
Valei-nos,
Zé do Telhado. Porque agora se nos apresentam os Robin Hood às avessas. Defraudam
os pobres para abarrotar os bolsos furados de alguns ricos, nesses tempos de
Rei Sem Coração. Aquiesceria Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto
ver agigantar-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da
virtude, a rir-se da honra e ter vergonha de ser honesto”.
*Cristiane Lisita (jornalista, advogada, escritora)
Muito a propósito no Dia do Trabalhador. Se as pessoas responsáveis lutassem pela Justiça e Igualdade não haveria diferença entre os trabalhadores e os outros. Logo, hoje, não faz sentido a divisão. Dia do Trabalhador, porquê? Todos os dias são dias do trabalhador, das crianças, dos velhos, dos doentes e de todos os que estão vivos e comungam o dia-a-dia. Certas datas, que foram importantes no seu tempo, não faz sentido, hoje, serem comemoradas como marcos de separação entre os homens. Deviam ser repensadas para se construir um mundo de paz e amor.
ResponderEliminarMuito bem amiga! Que bela lição da história lusa. E tanta falta faz a este povo imbecilizado e resignado ( como nos definia Guerra Junqueiro) e até aqui a alguns/algumas escribas deste blogue que acham que devemos "aguardar serenamente" por quem nos trata com tanto desprezo como o novel director do Diário de Notícias. Parabéns!
ResponderEliminarAh, desculpem que me esqueci de um pormenor: lição da história, lusa dada por uma brasileira!
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