“Rata de ouro”
Desde que me conheço com
ideias, sempre me congratulei por não haver na minha família – em nenhum
dos ramos – o culto do ouro; sendo o Minho, Viana em especial, a parcela de
Portugal onde será difícil encontrar casas onde não haja ouro, na minha família
ficavam-se por uns brinquitos para as meninas e pouco mais.
Mas havia muito ouro na aldeia, cujos cordões, de mais ou
menos voltas, as moças não deixavam de exibir, sempre que se proporcionasse
ocasião; dos rapazes não reza a história, no que respeita ao uso do precioso
metal, tirando uma aliança de casamento ou um singelo fio com um crucifixo ou
medalha, presente de algum padrinho; mas havia um, cuja mãe morreu nova,
deixando o viuvo com aquele filho único, que herdou da mãe o cordão que ela
levara para o casamento, pormenor que levava o pai, mais tarde, a gabar-se
perante as moças que o seu rapaz também tinha um cordão, para cima de um arrátel
de ouro.
Para as raparigas, que não fariam ideia do que fosse um “arrátel”,
o que lhes soou divertido foi “rata”, brincadeira que passavam umas para as
outras – o Armando do Couto é que era um bom partido, até tinha uma rata de
ouro - ficando o “infeliz” do moço a ser
gozado com essa alcunha pela vida toda, que também já terminou, coitado.
E já me estendi demasiado com esta historieta, quando a ideia era falar do ouro como reserva
familiar para tempos de crise inesperada,
que era essa a sua principal função. Segundo se lê no JN, haverá por todo o país,
mas sobretudo no norte, centenas de lojas de compra de ouro usado, aonde acorre
gente que ficou debilitada economicamente, tal como já acontecera em 2011, em
que o ouro vendido por particulares chegou a ser o segundo produto mais
exportado pelo nosso país.
Mas há outro lado triste desta situação, segundo relata
Manuel Sousa, director do Museu do Ouro, que é a perda de autênticas
preciosidades artísticas que documentavam a história do ouro em Portugal, já que
a maioria dessas peças é derretida e transformada em barras. Perguntado se alguém
controla o preço pago pelos comerciantes, Manuel Sousa diz que ninguém
controla, que a maioria das pessoas nem sequer vai a uma segunda loja para
comparar preços, vende e pronto...
Amândio G. Martins
A "língua" portuguesa é muito traiçoeira...
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