quinta-feira, 30 de julho de 2020


“Rata de ouro”


Desde que me conheço com  ideias, sempre me congratulei por não haver na minha família – em nenhum dos ramos – o culto do ouro; sendo o Minho, Viana em especial, a parcela de Portugal onde será difícil encontrar casas onde não haja ouro, na minha família ficavam-se por uns brinquitos para as meninas e pouco mais.

Mas havia muito ouro na aldeia, cujos cordões, de mais ou menos voltas, as moças não deixavam de exibir, sempre que se proporcionasse ocasião; dos rapazes não reza a história, no que respeita ao uso do precioso metal, tirando uma aliança de casamento ou um singelo fio com um crucifixo ou medalha, presente de algum padrinho; mas havia um, cuja mãe morreu nova, deixando o viuvo com aquele filho único, que herdou da mãe o cordão que ela levara para o casamento, pormenor que levava o pai, mais tarde, a gabar-se perante as moças que o seu rapaz também tinha um cordão, para cima de um arrátel de ouro.

Para as raparigas, que não fariam ideia do que fosse um “arrátel”, o que lhes soou divertido foi “rata”, brincadeira que passavam umas para as outras – o Armando do Couto é que era um bom partido, até tinha uma rata de ouro -  ficando o “infeliz” do moço a ser gozado com essa alcunha pela vida toda, que também já terminou, coitado.

E já me estendi demasiado com esta historieta,  quando a ideia era falar do ouro como reserva familiar para tempos de  crise inesperada, que era essa a sua principal função. Segundo se lê no JN, haverá por todo o país, mas sobretudo no norte, centenas de lojas de compra de ouro usado, aonde acorre gente que ficou debilitada economicamente, tal como já acontecera em 2011, em que o ouro vendido por particulares chegou a ser o segundo produto mais exportado pelo nosso país.

Mas há outro lado triste desta situação, segundo relata Manuel Sousa, director do Museu do Ouro, que é a perda de autênticas preciosidades artísticas que documentavam a história do ouro em Portugal, já que a maioria dessas peças é derretida e transformada em barras. Perguntado se alguém controla o preço pago pelos comerciantes, Manuel Sousa diz que ninguém controla, que a maioria das pessoas nem sequer vai a uma segunda loja para comparar preços, vende e pronto...


Amândio G. Martins

1 comentário:

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