terça-feira, 17 de junho de 2014

A notícia do dia e dos próximos trinta anos





Notícia do dia, muito possivelmente dos próximos trinta anos, a que ninguém prestou atenção, espumantes que andam contra os árbitros da toga ou do calção negro: Portugal vai ficar refém do Fundo de Resgate europeu até 2045.

Se juntarmos esses lustros, com os últimos anos, as contas dão algo parecido ao período histórico de 1600-1640, em que o país perdeu a independência.

Como a memória não chega tão longe, recorde-se que houve um povo que foi enrolado pelos sonhos messiânicos de um bando de deficientes de juízo, mas houve também um grupo pequeno de homens que amavam o seu país – o que parece não ser a norma na generalidade dos casos – que conseguiu pela força, reconstruir de novo um dos projectos de independência mais duradouros e consistentes do mundo ocidental.

Hoje e de novo somos todos prisioneiros, sem voz e a viver em condições insalubres.

Não temos muros altos e intransponíveis que nos cerquem e impeçam a fuga, mas temos  todos uma pulseira electrónica, que impede movimentos, que produz terríveis choques de alta voltagem, que nos fritam a cabeça, mirram-na, tornam o pensar livre num não pensar, consumindo as poucas forças, na mera obsessão de ir vivendo, como se pode, assim-assim.

Passei hoje por um monumento onde estão esculpidos na parede os nomes , milhares de nomes anónimos, de homens do meu país que morreram injustamente – existem homicídios justos? – a defenderem um império peripatético que só existiu – uma vez mais – na cabeça de um bando sem juízo.

Gostaria de um dia poder levar os meus filhos a um monumento, onde a todo o comprimentos da sua parede, estivessem esculpidos os nomes de todos os malfeitores que me prenderam para sempre, sem eu ter culpa formada.

Esse sim seria um  monumento fundamental, e creiam, muitos de nós sentiríamos nesse espaço o incómodo, perturbador, gélido, vácuo, que se sente quando deixámos de ter esperança, porque sabemo-nos condenados a prisão perpétua.

Luis Robalo





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