Cá estamos no tão esperado campeonato de matraquilhos, não
há nada mais nos próximos dias que inche a peitaça a ponto de rebentar os botões da camisa.
Para estarmos ao nível da concorrência (a equipa de
profissionais do Pirolito) forte e bem falante, conseguimos em esforço, decorar
o maior número de adjectivos de um dicionário , e ensaiar associações de ideias
não ideias, que o editor principal nos obrigou a deglutir do dia para a noite.
Se os rapazes das outras estações estão cheios de poesia nos
relatos, porque não havemos nós em esforço, tirar onde menos se espera - no
relato de um livre, num fora de jogo,
numa troca de meia na linha de jogo - uma imagem única, que fidelize o nosso
ouvinte/leitor?
É assim que conquistamos “share”, se bem que num dicionário
de inglês fiquemos com a ideia, talvez vaga, que essa palavra quer dizer
“partilha”.
O Homem , já nos telegrafámos – ele não, o dedo treme, foi uma assistente – continua sentado no seu sofá, na expectativa
do grande jogo. Está proibido pelo médico
de se manifestar muito, até porque ele nem sabe muito bem qual é o grande jogo.
Se os de branco ganharem, pode emitir um esgar de prazer, se
forem os outros fica proibido de sorrir sequer.
Nesta aldeia está uma quentura do caroço.
As mesas de matrecos, estão bonitas, pintadas de arco-íris.
O chefe construtor – de uma simpatia e charme hipnotizantes – veio logo ter com
a equipa do Pirolito. Pediu-nos, em voz baixa - rouquidão - um rapaz jeitoso,
de confiança, para apitar algumas partidas.
Disse-nos quase em sussuro
- pelo dito problema laríngico - e acreditamos não ser fácil, hoje em
dia encontrar um moço tímido, sério, entendido em penaltes, que não peça logo a
seguir uma sandes de couratos e até que
se estique de mão estendida, não se entenda isto como uma incorrecção de escrita – somos da
escola do jornalismo desportivo – o “esticar-se de mão estendida”.
O chefe da festa está preocupado, não vai para novo e
apoquenta-o muito a incompreensão humana
( porque é que os chefes se preocupam tanto ?), a falta de voluntários inqualificados para
arbitrar.
A gerente dos botecos onde montaram os estádios de
matraquilhos, pediu-lhe um pequeno
favor: anda com problemas em casa, todos refilam sem razão.
Ingratos! Vivessem eles a miséria dos outros, na Somália,
Etíopia. Têm muito de que se queixar (é dela este desabafo, com meia tosta de
caviar comida, dependurada na mão esquerda, após a cerimónia de abertura).
Dias de festa são
dias de festa, não se diz mal do croquete (estranho! Cá na aldeia, quando o
homem teve a questão vagal, duas moças idosas entrevistadas na audiência, bem
escolhidas e que apareceram na televisão disseram precisamente o mesmo!).
Um favor – aos amigos nada se recusa . A medalha que fique
onde está. Assim os meliantes provocadores
, provocadores só porque não os deixam entrar para assistir aos jogos, vão
aborregar, amaciar, vão deixar de cuspir para os centuriões, e partir os
canteiros de flores.
Deem-lhes a medalha. A Dona acha que assim a coisa se
compõe.
A malta quer é festa. Umas bagaceiras com lima e gelo ,
nádegas imponentes a baterem palmas, uma
contra a outra, ao mesmo ritmo, e eles
acabam por voltar, ébrios de submissão, às suas fabulosas casas com vistas para
o paraíso e cheiro a esgoto em céu aberto.
Eles os insurrectos, meia dúzia.
Para além de bom jornalista e falar do tema de um modo quase
literário, também me sensibilizam as boas causas: toca-me a sensibilidade do
dono do negócio, e da dona que quer lucrar com o negócio.
Soubesse eu, tinha trazido comigo uma mão cheia de rapazes
empreendedores e com jeito para o escrutínio: um penálti é quando um homem
quiser!
Já vou tarde, mesmo assim ainda vou mandar uma pomba correio
ao homem (espero que não olhe para a bicha como melro, custa-lhe o nome das
coisas) , com os conhecimentos que ele tem pode que ainda arranje um punhado
dos que escrutinam bem e venham dar uma mão humanitária ao tipo que organiza o
campeonato e à sua lúcida e boa amiga.
Último apontamento de reportagem: Amanhã joga a equipa da
nossa aldeia.
Amanhã não se trabalha, todos de olhos vesgos prostrados no
plasma, mine na mão, no café do Aníbal, antes da batalha em palpites galarós, e
depois, ou todos a chorar e de braço dado a cantarmos o hino do piquenicão, ou
a maldizermos os malditos dos políticos, responsáveis pelo estado de má
preparação a que a equipa chegou.
A carga está a ficar muito pesada. Um pouco de sentido de humor talvez alivie um pouco. Dou-lhe os parabéns e desejo que não perca a veia.
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