Hoje, exige-se, e muito bem, condições condignas para transporte de animais. Por mera coincidência, na mesma altura, Mário Soares seria deportado para S. Tomé mas teve mais sorte pois fez uma viagem de algumas horas de avião, guardado por três agentes e conseguiu trabalhar como advogado dos exploradores/fascistas da CUF, anos mais tarde presos e saneados. Mas foi em Timor, que pratiquei a missão mais arriscada como antifascista. Um dia vejo a atravessar a rua um agente da Pide que era mesmo em frente ao café em que parávamos. Por instinto e com a adrenalina a subir e sabendo a mesa habitual que ele ocupava, fiz uso do meu vasto conhecimento em envenenamentos aprendidos nos filmes dos Bórgia e não hesito: despejo o saleiro no açucareiro provocando-lhe um ataque de fúria, impropérios ao proprietário, empregados e pela certa uma subida da tensão arterial. Não sei se haverá muitos antifascistas com este currículo, mas sei que no outro lado da barricada houve um Marechal muito da esquerda que chegou a Presidente da República e que tinha recebido da Pide o crachá de ouro por serviços prestados àquela tenebrosa policia. Desconheço, mas será fácil imaginar que outros oficiais de mais baixa patente, agora muito revolucionários e democratas, tenham subido ao pódio com crachás em prata e em bronze. Pelo exposto, mereço ou não uma condecoração? Comendador Morais, que tal? Jorge Morais
Publicado no jornal PÚBLICO de 10 Junho 2014
O sublinhado foi cortado talvez por falta de espaço.
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