Passados os tempos áureos do rei venturoso ou da minha
meninice, os ventos da desgraça têm soprado por de mais sobre o mal cuidado
jardim colectivo, à beira-mar abandonado, em que os filhos de um deus menor
dele fogem a sete pés ou a tal são obrigados, porque, por cá, as ervas-daninhas
são tantas e perigosas, que as teias por elas tecidas têm tornado terra mui
fecunda para todos em estéril sementeira.
E quase todos os doutos arautos – provindos das excelsas
áreas de Direito, Economia, Gestão e Finanças, ou de outras desagregadoras
panaceias – que têm colocado o dito nas cadeiras do poder, mais não têm feito
do que seguirem à risca o pacóvio provérbio de ‘quem parte e reparte e não fica
com a maior parte, ou é burro ou não tem arte’.
Todavia, indo muitíssimo para além do aforismo, tais lesivos
artífices a tudo se têm abarbatado, deixando os cofres da nação vazios e quase
todos nós na penúria.
E vejam como todos eles, com a Justiça a seu favor, gozam na
nossa cara, como se fôssemos mentecaptos ou simplesmente cidadãos de segunda.
Só como exemplo, vou tomar dois casos recentes. Um,
prende-se com o cidadão que, por artes circenses, se locupletou com cinco
milhões de euros de honorários de uma cidadã que foi desta para melhor,
recaindo todas as suspeitas do terrível desenlace sobre o causídico em causa.
O segundo facto, diz respeito a um outro cidadão que esteve
preso e que inocentemente afirmou que só não erra quem não trabalha ou nada
faz.
E mais declarou que estar na cadeia ‘foi uma experiência que
me enriqueceu’, ou não terá sido antes enriquecedora o terem-lhe posto muita
massa nas mãos que, afinal, era de um sobrinho?
E são cidadãos como estes que tiveram o condão de terem sido,
são e virão a ser os condutores dos destinos de Portugal.
Oh ditosa Pátria, que inditosa serás com filhos deste jaez.
José Amaral
Sem comentários:
Enviar um comentário
Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.