quinta-feira, 26 de junho de 2014

Quem parte e reparte e ...

Passados os tempos áureos do rei venturoso ou da minha meninice, os ventos da desgraça têm soprado por de mais sobre o mal cuidado jardim colectivo, à beira-mar abandonado, em que os filhos de um deus menor dele fogem a sete pés ou a tal são obrigados, porque, por cá, as ervas-daninhas são tantas e perigosas, que as teias por elas tecidas têm tornado terra mui fecunda para todos em estéril sementeira.
E quase todos os doutos arautos – provindos das excelsas áreas de Direito, Economia, Gestão e Finanças, ou de outras desagregadoras panaceias – que têm colocado o dito nas cadeiras do poder, mais não têm feito do que seguirem à risca o pacóvio provérbio de ‘quem parte e reparte e não fica com a maior parte, ou é burro ou não tem arte’.
Todavia, indo muitíssimo para além do aforismo, tais lesivos artífices a tudo se têm abarbatado, deixando os cofres da nação vazios e quase todos nós na penúria.
E vejam como todos eles, com a Justiça a seu favor, gozam na nossa cara, como se fôssemos mentecaptos ou simplesmente cidadãos de segunda.
Só como exemplo, vou tomar dois casos recentes. Um, prende-se com o cidadão que, por artes circenses, se locupletou com cinco milhões de euros de honorários de uma cidadã que foi desta para melhor, recaindo todas as suspeitas do terrível desenlace sobre o causídico em causa.
O segundo facto, diz respeito a um outro cidadão que esteve preso e que inocentemente afirmou que só não erra quem não trabalha ou nada faz.
E mais declarou que estar na cadeia ‘foi uma experiência que me enriqueceu’, ou não terá sido antes enriquecedora o terem-lhe posto muita massa nas mãos que, afinal, era de um sobrinho?
E são cidadãos como estes que tiveram o condão de terem sido, são e virão a ser os condutores dos destinos de Portugal.
Oh ditosa Pátria, que inditosa serás com filhos deste jaez.

José Amaral

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