sábado, 5 de julho de 2014

A àrvore e a floresta

 
Infelizmente, os últimos governantes que têm dominado o nosso país, esbarraram na árvore e não vêem a floresta. Não levantam os olhos para ver que isto anda tudo ligado, e que uma decisão arrasta outras, e é, muitas vezes, um rastilho para destruir um lugar e continuar a despovoar o país.
Fecham a escola numa aldeia sem se aperceberem, que nalguns casos, o docente era o principal agente cultural do lugar, que organizava as actividades lúdicas e recreativas.
 A modesta biblioteca da colectividade foi por si criada e até o pequeno grupo de teatro é ele que o ensaia e escolhe o repertório.
 O posto dos CTT fecha porque já não há número suficiente de correio, quer enviado, quer recebido, pois livros, jornais, avisos e encomendas postais deixaram de circular.
 A pequena papelaria, com o serviço Payshop, onde se pagava a luz, o telefone e a água, também encerrou, dado que o material escolar é agora adquirido na vila para onde os alunos foram transferidos. Para que a Junta não tomasse posição contra o encerramento da escola, pois o presidente era do Partido do Governo, criaram-se empregos, para o próprio e para um familiar, na condução da carrinha, adquirida para deslocar as crianças para o agrupamento escolar da sede do concelho. Desta trampolinice, o Ministério da Educação poupa o salário de um professor, e o Ministério da Administração Interna, acabará por pagar a mais dois funcionários. O professor deixou de morar no lugar e com ele foi a família que era uma referência local. A terra ficou mais pobre e não há quem ajude a esclarecer uma dúvida, do dia-a-dia, aos velhos moradores. Como remate final, até a Junta de Freguesia acabou e foi unida a outra, que fica a alguns quilómetros de distância. Assim se retiram as mínimas condições de sobrevivência a quem reside no interior do país. Uma sucessão de serviços públicos vão fechando nas vilas e concelhos menos povoados, arrastando consigo o encerramento de serviços privados, que deixam de ser rentáveis, tais como balcões bancários, EDP, TLP e outros. Primeiro fecharam maternidades e depois alguns hospitais, em que estas estiveram inseridas. Na ânsia da destruição, está decidido encerrar repartições de finanças de alguns concelhos. Na mesma senda, 20 tribunais serão extintos e 27 diminuídos nas suas funções. Por arrastamento, de tudo isto, resulta a fuga desses lugares de funcionários das mais diversas aptidões, médicos, enfermeiros, pessoal auxiliar, advogados, juízes, solicitadores, delegados do MP e todo o staff que nos lugares apropriados exerce a sua profissão.
Numa correlação com o atrás descrito, fecham restaurantes, cafés, todo o comércio onde esta gente se abastecia e que estava relacionado com as profissões, e as casas onde viveram e das quais têm recordações, ficarão, eternamente, para alugar porque o despovoamento é irreversível. Agora, os moradores têm de se deslocar para uma vila que comporta os serviços, às vezes a dezenas de quilómetros, dando origem a um aumento de combustível que importamos e que, no final, se soubessem fazer contas, veriam que tudo acaba por ser mais oneroso para a economia do país. Destroem o interior e arruínam a totalidade do país.

Joaquim Carreira Tapadinhas – Montijo 
(Público, 14-7-2014)

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