Infelizmente, os últimos
governantes que têm dominado o nosso país, esbarraram na árvore e não vêem a
floresta. Não levantam os olhos para ver que isto anda tudo ligado, e que uma
decisão arrasta outras, e é, muitas vezes, um rastilho para destruir um lugar e
continuar a despovoar o país.
Fecham a escola numa aldeia sem
se aperceberem, que nalguns casos, o docente era o principal agente cultural do
lugar, que organizava as actividades lúdicas e recreativas.
A modesta biblioteca da colectividade foi por
si criada e até o pequeno grupo de teatro é ele que o ensaia e escolhe o repertório.
O posto dos CTT fecha porque já não há número
suficiente de correio, quer enviado, quer recebido, pois livros, jornais,
avisos e encomendas postais deixaram de circular.
A pequena papelaria, com o serviço Payshop,
onde se pagava a luz, o telefone e a água, também encerrou, dado que o material
escolar é agora adquirido na vila para onde os alunos foram transferidos. Para
que a Junta não tomasse posição contra o encerramento da escola, pois o
presidente era do Partido do Governo, criaram-se empregos, para o próprio e
para um familiar, na condução da carrinha, adquirida para deslocar as crianças
para o agrupamento escolar da sede do concelho. Desta trampolinice, o
Ministério da Educação poupa o salário de um professor, e o Ministério da
Administração Interna, acabará por pagar a mais dois funcionários. O professor
deixou de morar no lugar e com ele foi a família que era uma referência local.
A terra ficou mais pobre e não há quem ajude a esclarecer uma dúvida, do
dia-a-dia, aos velhos moradores. Como remate final, até a Junta de Freguesia
acabou e foi unida a outra, que fica a alguns quilómetros de distância. Assim
se retiram as mínimas condições de sobrevivência a quem reside no interior do
país. Uma sucessão de serviços públicos vão fechando nas vilas e concelhos menos
povoados, arrastando consigo o encerramento de serviços privados, que deixam de
ser rentáveis, tais como balcões bancários, EDP, TLP e outros. Primeiro
fecharam maternidades e depois alguns hospitais, em que estas estiveram
inseridas. Na ânsia da destruição, está decidido encerrar repartições de
finanças de alguns concelhos. Na mesma senda, 20 tribunais serão extintos e 27
diminuídos nas suas funções. Por arrastamento, de tudo isto, resulta a fuga
desses lugares de funcionários das mais diversas aptidões, médicos, enfermeiros,
pessoal auxiliar, advogados, juízes, solicitadores, delegados do MP e todo o
staff que nos lugares apropriados exerce a sua profissão.
Numa correlação com o atrás descrito,
fecham restaurantes, cafés, todo o comércio onde esta gente se abastecia e que
estava relacionado com as profissões, e as casas onde viveram e das quais têm
recordações, ficarão, eternamente, para alugar porque o despovoamento é
irreversível. Agora, os moradores têm de se deslocar para uma vila que comporta
os serviços, às vezes a dezenas de quilómetros, dando origem a um aumento de
combustível que importamos e que, no final, se soubessem fazer contas, veriam
que tudo acaba por ser mais oneroso para a economia do país. Destroem o
interior e arruínam a totalidade do país.
Joaquim Carreira
Tapadinhas – Montijo
(Público, 14-7-2014)
(Público, 14-7-2014)
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