sábado, 2 de maio de 2015

TINA que os pariu!


João Miguel Tavares veio lembrar-nos o triste TINA (There Is No Alternative), no linguajar dos súbditos de Sua Majestade britânica que ele próprio traduz com NHA (Não Há Alternativa) na bela língua de Camões. Servem os acrónimos para justificar a triste sina dos povos endividados e “ totalmente dependentes do financiamento exterior para fazer face às obrigações mais elementares” como refere o cronista no seu texto de 30 de Abril nas páginas do Público.

Até compreendo a ideia, a coisa é terrível, estamos entregues aos mercados, esses bichos temperamentais que nos emprestam dinheiro a juros. Bicharada gorda e insaciável que não abdica do direito que tem a explorar o Zé Pacóvio seja ele português, grego, espanhol ou irlandês, tal e qual como nos filmes em que os mafiosos aproveitam a fraqueza alheia (principalmente a dos tasqueiros) para ganhar dinheiro fácil. É a lei da selva, as bestas mais agressivas e poderosas regulam, a incauta carneirada tem de aguentar ou ser comida. NHA para as políticas de austeridade, o povo é que paga.

Tudo isto faz muito sentido para quem tem a barriga acomodada e um tecto jeitoso sobre a cabecinha pensadora. Conclui sabiamente João Miguel Tavares que “convém começar por aceitar o que não podemos mudar, para depois mudar aquilo que podemos.” Eu, tal como o cronista, sou daqueles a quem a barriga não encolhe de fome nem o tecto deixa passar o frio nem chuva sobre a cabeça pensadora. Mas nós, os que vivemos com problemas suportáveis, não somos a totalidade da população, duvido até que sejamos a maioria. Há toda aquela horda de “famélicos da terra” para quem o TINA (ou NHA) significa miséria e não apenas incómodo.

A guerra é um negócio? TINA. Os países mais ricos do mundo são os principais produtores (e traficantes) de armas? TINA. A esmagadora maioria das pessoas tem de suportar condições de vida degradantes para que 1% de seres aparentemente humanos vivam de forma que nem sequer somos capazes de imaginar? TINA. O planeta tem de se parecer com uma lixeira nojenta para que este modo de vida se perpetue (até rebentar com esta coisa toda)? TINA. 

TINA mas é o caraças! Pensar que tudo se resume a TINA é ser preguiçoso, é deixar cair a ideia básica da Democracia e aceitar ser saco de sangue para vampiro. Eu digo: TINA que os pariu!

Já agora, para terminar, quero lembrar ao João Miguel Tavares que “NHA, NHA, NHA” soa a refrão de um hit de Kylie Minogue, pop bonita de ver e ouvir mas só para quem gosta ou está distraído.

Texto enviado hoje para a Directora do jornal Público


2 comentários:

  1. Caro Silvares,
    Que inveja me dá não ter sido eu a escrever este seu texto.
    E sabe que mais? TINA há só uma, a Turner e mais nenhuma.
    Um grande abraço.

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  2. Várias vezes me lembrei de Tina Turner enquanto escrevia este texto. Grato pelas suas palavras.

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