João Miguel Tavares veio lembrar-nos o triste TINA (There Is No
Alternative), no linguajar dos súbditos de Sua Majestade britânica que ele
próprio traduz com NHA (Não Há Alternativa) na bela língua de Camões. Servem os
acrónimos para justificar a triste sina dos povos endividados e “ totalmente dependentes
do financiamento exterior para fazer face às obrigações mais elementares” como
refere o cronista no seu texto de 30 de Abril nas páginas do Público.
Até compreendo a ideia, a coisa é terrível, estamos entregues aos
mercados, esses bichos temperamentais que nos emprestam dinheiro a juros. Bicharada
gorda e insaciável que não abdica do direito que tem a explorar o Zé Pacóvio
seja ele português, grego, espanhol ou irlandês, tal e qual como nos filmes em
que os mafiosos aproveitam a fraqueza alheia (principalmente a dos tasqueiros)
para ganhar dinheiro fácil. É a lei da selva, as bestas mais agressivas e
poderosas regulam, a incauta carneirada tem de aguentar ou ser comida. NHA para
as políticas de austeridade, o povo é que paga.
Tudo isto faz muito sentido para quem tem a barriga acomodada e um
tecto jeitoso sobre a cabecinha pensadora. Conclui sabiamente João Miguel
Tavares que “convém começar por aceitar o que não podemos mudar, para depois
mudar aquilo que podemos.” Eu, tal como o cronista, sou daqueles a quem a
barriga não encolhe de fome nem o tecto deixa passar o frio nem chuva sobre a
cabeça pensadora. Mas nós, os que vivemos com problemas suportáveis, não somos
a totalidade da população, duvido até que sejamos a maioria. Há toda aquela
horda de “famélicos da terra” para quem o TINA (ou NHA) significa miséria e não
apenas incómodo.
A guerra é um negócio? TINA. Os países mais ricos do mundo são os
principais produtores (e traficantes) de armas? TINA. A esmagadora maioria das
pessoas tem de suportar condições de vida degradantes para que 1% de seres
aparentemente humanos vivam de forma que nem sequer somos capazes de imaginar?
TINA. O planeta tem de se parecer com uma lixeira nojenta para que este modo de
vida se perpetue (até rebentar com esta coisa toda)? TINA.
TINA mas é o
caraças! Pensar que tudo se resume a TINA é ser preguiçoso, é deixar cair a
ideia básica da Democracia e aceitar ser saco de sangue para vampiro. Eu digo:
TINA que os pariu!
Já agora, para terminar, quero lembrar ao João Miguel Tavares que “NHA,
NHA, NHA” soa a refrão de um hit de Kylie Minogue, pop bonita de ver e ouvir
mas só para quem gosta ou está distraído.
Texto enviado hoje para a Directora do jornal Público
Caro Silvares,
ResponderEliminarQue inveja me dá não ter sido eu a escrever este seu texto.
E sabe que mais? TINA há só uma, a Turner e mais nenhuma.
Um grande abraço.
Várias vezes me lembrei de Tina Turner enquanto escrevia este texto. Grato pelas suas palavras.
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