OS
ORGANIZADORES E OS UTOPISTAS
Os escritos
sociológicos são, demasiadas vezes, ou meramente técnicos e práticos ou então
meramente utópicos. Os técnicos prestam um bom serviço ao criticarem os métodos
correntes da organização social e em alvitrarem melhorias pormenorizadas. Mas,
como todos os organizadores, estão sujeitos, no meio dos tecnicismos
administrativos, a esquecer o que é que estão a organizar; como todos os
críticos de pormenor, são inclinados a aceitar, demasiado complacentemente, a
principal moldura da estrutura, cujos pormenores estão a tentar melhorar. Não são
nenhuns utopistas a meditar nas coisas como elas deviam ser, mas não o são.
Aceitam as coisas como elas são, mas sem lhes fazer qualquer crítica, porque,
juntamente com as instituições sociais existentes, aceitam aquela concepção da
natureza humana que as instituições implicam.
Os utópicos,
por outro lado, nada aceitam. Estão demasiadamente preocupados com o que devia
ser, para prestarem qualquer atenção séria ao que é. A realidade exterior
desgosta-os; o sonho compensador é o universo em que vivem. O assunto das suas
meditações não é o Homem, mas sim um monstro de racionalidade e virtude – de
uma espécie de racionalidade e virtude, nesse aspecto, só deles. Os habitantes
da Utopia são radicalmente diferentes dos seres humanos. Os seus criadores
gastam toda a sua tinta e energia a discutir, não o que na realidade acontece,
mas o que aconteceria se os homens e as mulheres fossem completamente diferentes
do que são e do que, através dos anais da História, sempre foram.
NOTA – Texto
de Aldous Huxley, transcrito por
Amândio G.
Martins
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