IGUALDADE E CRISTANDADE
Do ponto de
vista do facto histórico, a noção de igualdade humana é um produto recente e,
longe de ser uma verdade directamente apreendida e necessária, é uma conclusão
logicamente tirada de assunções metafísicas preexistentes. Nos tempos modernos,
as doutrinas cristãs da irmandade dos homens e da sua igualdade perante Deus
foram invocadas em apoio da democracia política. Muito ilogicamente, no
entanto. Porque a irmandade dos homens não
significa a sua igualdade. As famílias têm os seus patetas e os seus homens
geniais, as suas ovelhas ronhosas e os seus santos, os seus êxitos e os seus
falhanços mundanos.
O homem deve
tratar os seus irmãos amorosamente e com justiça. Mas os méritos de cada irmão
não são os mesmos. Nem a igualdade dos homens perante Deus significa a sua
igualdade conforme ela é entre eles. Comparada com uma quantidade infinita,
todas as quantidades finitas podem ser consideradas iguais. Não existe nenhuma
diferença, quando se trata de infinidade, entre um e mil.
O nosso mundo
é um mundo de quantidades finitas e, quando se trata de assuntos terrenos, o
facto de todos os homens serem iguais em relação à quantidade infinita que é
Deus é inteiramente irrelevante.
A igreja
conduziu em todos os tempos a sua política terrena na assunção de que tal era
irrelevante. Só recentemente é que os teóricos da democracia apelaram para a
doutrina cristã para obterem uma confirmação dos seus princípios igualitários.
Mas a doutrina cristã não dá tal apoio.
NOTA – Texto de
Aldous Huxley, transcrito por
Amândio G.
Martins
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