quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

LIVRE PENSAR


                                                    A IDEIA DE IGUALDADE

Que todos os homens são iguais é uma proposição à qual, em tempos normais, nenhum ser humano sensato deu, alguma vez, o seu assentimento. Um homem que tem de se submeter a uma operação perigosa não age sob a presunção de que tão bom é um médico como outro qualquer. Os editores não imprimem todas os obras que lhes chegam às mãos.
E quando são precisos funcionários públicos, até os governos mais democráticos fazem uma selecção cuidadosa entre os seus súbditos teoricamente iguais. Em tempos normais, portanto, estamos perfeitamente certos de que os homens não são iguais. Mas quando, num país democrático, pensamos ou agimos políticamente, não estamos menos certos de que os homens são iguais. Ou, pelo menos – o que na prática vem a ser a mesma coisa – procedemos como se estivéssemos certos da igualdade dos homens.
Identicamente, o piedoso fidalgo medieval que, na igreja, acreditava em perdoar aos inimigos e oferecer a outra face, estava pronto, logo que emergia novamente à luz do dia, a desembainhar a sua espada à mínima provocação.
A quantidade de tempo durante a qual os homens estão empenhados em pensar ou agir políticamente é muito reduzida, quando comparada com todo o período das suas vidas; mas as breves actividades do homem político exercem uma influência desproporcionada sobre a vida diária do homem trabalhador, do homem a diveretir-se, do homem pai e marido, do homem senhor de propriedades.

NOTA – Texto de Aldous Huxley transcrito por
Amândio G. Martins


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