A IGUALDADE E O FILÓSOFO
Os escritores
que no decurso do séc. XVIII forneceram à nossa moderna democracia política a
sua base filosófica, não se voltaram para o Cristianismo para encontrarem a
doutrina da igualdade humana. Eles eram, para começar, quase sem excepção,
escritores anticlericais para quem a ideia de aceitar qualquer auxílio da Igreja
teria sido extremamente repugnante.
Além disso, a
Igreja, conforme organizada para as suas actividades terrenas, não lhes
ofereceu qualquer auxílio, mas sim uma franca hostilidade. Ela representava
ainda mais claramente do que os estado monárquico e feudal, aquele princípio
medieval de governo hierárquico e aristocrático contra o qual, precisamente, os
equalitários protestavam.
A origem da
nossa ideia moderna de igualdade humana tem de encontrtar-se na filosofia de Aristóteles.
O tutor de Alexandre o Grande não era, na verdade, um democrata. Vivendo, como
o fazia, numa sociedade detentora de escravos, ele considerava a escravatura
como um necessário estado de coisas.
Aquilo que
está, está certo; o familiar é o razoável; e Aristóteles era um detentor de
escravos, não um escravo ele próprio; não tinha qualquer motivo para se
queixar. Na sua filosofia política, ele racionalizou a sua satisfação com o
estado de coisas vigente e afirmou que alguns homens nascem para serem
senhores(entre os quais ele, é claro) e outros para serem escravos.
Mas ao dizer
isto estava a cometer uma inconsistência. Porque era um preceito fundamental no
seu sistema metafísico, que as qualidades específicas são as mesmas em todo o
membro de uma espécie. Os indivíduos de uma espécie são os mesmos em essência
ou substância. Dois seres humanos diferem um do outro na matéria, mas são o
mesmo na essência. A qualidade humana essencial que distingue a espécie Homem de todas as outras espécies é idêntica
em ambos.
NOTA – texto de
Aldous Huxley, transcrito por
Amândio G.
Martins
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