domingo, 31 de janeiro de 2016

O COMBATE DAS IDEIAS

                                                     A IGUALDADE E O FILÓSOFO
Os escritores que no decurso do séc. XVIII forneceram à nossa moderna democracia política a sua base filosófica, não se voltaram para o Cristianismo para encontrarem a doutrina da igualdade humana. Eles eram, para começar, quase sem excepção, escritores anticlericais para quem a ideia de aceitar qualquer auxílio da Igreja teria sido extremamente repugnante.
Além disso, a Igreja, conforme organizada para as suas actividades terrenas, não lhes ofereceu qualquer auxílio, mas sim uma franca hostilidade. Ela representava ainda mais claramente do que os estado monárquico e feudal, aquele princípio medieval de governo hierárquico e aristocrático contra o qual, precisamente, os equalitários protestavam.
A origem da nossa ideia moderna de igualdade humana tem de encontrtar-se na filosofia de Aristóteles. O tutor de Alexandre o Grande não era, na verdade, um democrata. Vivendo, como o fazia, numa sociedade detentora de escravos, ele considerava a escravatura como um necessário estado de coisas.
Aquilo que está, está certo; o familiar é o razoável; e Aristóteles era um detentor de escravos, não um escravo ele próprio; não tinha qualquer motivo para se queixar. Na sua filosofia política, ele racionalizou a sua satisfação com o estado de coisas vigente e afirmou que alguns homens nascem para serem senhores(entre os quais ele, é claro) e outros para serem escravos.
Mas ao dizer isto estava a cometer uma inconsistência. Porque era um preceito fundamental no seu sistema metafísico, que as qualidades específicas são as mesmas em todo o membro de uma espécie. Os indivíduos de uma espécie são os mesmos em essência ou substância. Dois seres humanos diferem um do outro na matéria, mas são o mesmo na essência. A qualidade humana essencial que distingue a espécie  Homem de todas as outras espécies é idêntica em ambos.

NOTA – texto de Aldous Huxley, transcrito por

Amândio G. Martins

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