É esta minha matriz bipolar rejubilo-enluto que desiquilibra o
meu bem-estar e leva à alteração da medicação. São pequenos nadas, assuntos
fáctuos, sopros de ventos fétidos, minudências.
Exemplifico: antigos presidentes da República têm direito a um
gabinete com bons(?)quadros num palácio - pode mesmo ser um convento; uma
secretária dedicada; um assessor solícito e sagaz; uma viatura jeitosa com
kit-software de emissão de gases poluentes; um motorista que dá uma mão em
defesa pessoal de personalidades se for preciso e que adora horas
extraordinárias.
Coisas assim anulam o efeito dos anti-depressivos que
ingiro, desestabilizam o sono, põe-me a sonhar com coletes de homem-bomba
suicida.
Qual é a história, por mais bem contada que seja que justifica
que uma secretária dedicada não é suficiente para o expediente de todos os
ex-presidentes, sendo que os há que já só saem da cama com autorização do
médico de família? Para quê um palácio (pensei que os republicanos não
habitavam palácios!), se um corredor simpático e amplo num andar de um edifício
de serviços do Estado, com gabinetes amplos e mesmo com quadros bons ( segundo
a perspectiva subjectiva de cada um)seria uma boa solução? Assessores solícitos
e sagazes pululam pelos corredores. Um só, mesmo escolhido a dedo, não pode
efabular brilhantemente conteúdos, para todos eles? Uma viatura de jeito (vidros pretos fumados, luzes-sirenes
azul intermitente incrustadas na grelha dianteira), mesmo sem kit de gases
nocivos, com um motorista prestável e bom condutor, não poderia transportá-los
a todos? Diariamente, com um bom planeamento de horários, cada um à vez, de
seus lares para os gabinetes, e de volta no final?
O que têm ainda para dar aos contribuintes aqueles que ou não
deram tudo o que deviam ou nunca poderiam dar mais do que o pouco da sua
capacitação genética,e que nos obriga a continuar a pagar? Nem todos claro,
estão neste retrato, todos sabemos quem são. Fica a caricatura para os
outros.
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