sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

LUTA INGLÓRIA

                                                          POUR ÉPATER LE BOURGEOIS
Há umas dezenas de anos, estava ainda muito verde o regime democrático, houve um governo que decidiu criar uma Alta Autoridade Contra a Corrupção, de que foi seu primeiro titular um militar de nome Costa Brás, se bem me lembro.
O cepticismo em relação ao sucesso de tal organismo foi então generalizado, ilustrado até por uma caricatura do António, no Expresso, em que um sujeito pedia a outro que lhe explicasse o que podia fazer essa coisa da AACC, ao que lhe foi respondido: “Olha, é assim uma espécie de cão que levanta a caça”… Comentário imediato do primeiro: “Ah, já sei, e a gente vai e mata o cão”!
Entretanto ascendeu ao Poder essa figura de má memória que nos assombra até hoje, que, confrontado no Parlamento com o descaminho que levava grossa fatia dos milhões de fundos europeus, gritava indignado que Portugal não era o Uganda, não era um país de corruptos. E todos temos bem presente o que depois fizeram alguns dos seus homens de confiança, no famigerado BPN…
Acabamos de ver copiosamente derrotado um candidato a presidente cujo tema de campanha era a luta contra a corrupção, demonstrando, a meu ver, que não faz a menor ideia do país em que vive, em que a pessoa séria é avaliada como um pobre diabo, um lorpa, e o corrupto é um tipo esperto, que sabe “governar” a vida…
E mesmo quando surgem “medidas” sonoramente apresentadas como combate ao compadrio, à cunha, ao tráfico de influências, tudo se revela mera poeira atirada aos olhos dos papalvos,  para que tudo fique na mesma.
Tivemos uma ministra da Justiça que, aproveitando a detenção de algum nome sonante, vinha perante os holofotes gritar em voz grossa, como se aquilo fosse obra acabada sua, que tinha acabado a impunidade, mas esta espécie de Cardona 2 logo se engasgava quando eram descobertas coisas bem feias mesmo debaixo do seu nariz.
O governo a que pertenceu criou até uma dessas cortinas de fumo para recrutamento de altos quadros para o Estado, mas o que isso demonstrou é que os lugares acabavam sempre ocupados por gente da sua área política, ou se um eventual mais bem classificado não fosse dessa área,  tudo era feito para o deixar a “mofar”, às vezes anos, prolongando o mandato dos que estavam.
Acabo de ouvir na SIC, convidado desse guru da economia, Gomes Ferreira, um empresário sem escrúpulos, que acumula riqueza esmifrando fornecedores e trabalhdores e fugindo aos impostos, ofender grosseiramente o Governo por querer melhorar a vida daqueles que mais têm sofrido, e dava náuseas ver o ar deleitado com que era ouvido.


                                                 Amândio G. Martins

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