POUR ÉPATER LE
BOURGEOIS
Há umas
dezenas de anos, estava ainda muito verde o regime democrático, houve um governo
que decidiu criar uma Alta Autoridade Contra a Corrupção, de que foi seu
primeiro titular um militar de nome Costa Brás, se bem me lembro.
O cepticismo
em relação ao sucesso de tal organismo foi então generalizado, ilustrado até
por uma caricatura do António, no Expresso, em que um sujeito pedia a outro que
lhe explicasse o que podia fazer essa coisa da AACC, ao que lhe foi respondido:
“Olha, é assim uma espécie de cão que levanta a caça”… Comentário imediato do
primeiro: “Ah, já sei, e a gente vai e mata o cão”!
Entretanto
ascendeu ao Poder essa figura de má memória que nos assombra até hoje, que,
confrontado no Parlamento com o descaminho que levava grossa fatia dos milhões
de fundos europeus, gritava indignado que Portugal não era o Uganda, não era um
país de corruptos. E todos temos bem presente o que depois fizeram alguns dos
seus homens de confiança, no famigerado BPN…
Acabamos de
ver copiosamente derrotado um candidato a presidente cujo tema de campanha era
a luta contra a corrupção, demonstrando, a meu ver, que não faz a menor ideia
do país em que vive, em que a pessoa séria é avaliada como um pobre diabo, um
lorpa, e o corrupto é um tipo esperto, que sabe “governar” a vida…
E mesmo
quando surgem “medidas” sonoramente apresentadas como combate ao compadrio, à
cunha, ao tráfico de influências, tudo se revela mera poeira atirada aos olhos
dos papalvos, para que tudo fique na
mesma.
Tivemos uma
ministra da Justiça que, aproveitando a detenção de algum nome sonante, vinha
perante os holofotes gritar em voz grossa, como se aquilo fosse obra acabada
sua, que tinha acabado a impunidade, mas esta espécie de Cardona 2 logo se
engasgava quando eram descobertas coisas bem feias mesmo debaixo do seu nariz.
O governo a
que pertenceu criou até uma dessas cortinas de fumo para recrutamento de altos
quadros para o Estado, mas o que isso demonstrou é que os lugares acabavam
sempre ocupados por gente da sua área política, ou se um eventual mais bem classificado
não fosse dessa área, tudo era feito
para o deixar a “mofar”, às vezes anos, prolongando o mandato dos que estavam.
Acabo de
ouvir na SIC, convidado desse guru da economia, Gomes Ferreira, um empresário
sem escrúpulos, que acumula riqueza esmifrando fornecedores e trabalhdores e
fugindo aos impostos, ofender grosseiramente o Governo por querer melhorar a
vida daqueles que mais têm sofrido, e dava náuseas ver o ar deleitado com que
era ouvido.
Amândio G. Martins
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