A direita política que beneficiou de um regime autoritário na II República, não consegue perder esse complexo em democracia. Estando perante a possibilidade (espero remota) de termos uma maioria, um governo e um Presidente todos de esquerda, ainda não conseguiu vir a terreiro mostrar esse "espantalho" político. Nem o candidato Marcelo Rebelo de Sousa, nem nenhum dos seus apoiantes políticos, jamais ousou sequer falar nisso ao de leve. Parece que é pecaminoso atacar a esquerda "ungida". Parece mal, é quase "antidemocrático", coisa de "fascistas". A esquerda tem sempre razão, porque raio não haveria agora de ter todos os orgãos de soberania sob o seu comando "clarividente" e "preclaro". Coisa que Mário Soares chegou a referir como governo totalitário, quando houve essa maioria do lado da direita. E agitaram todos os "espantalhos" possíveis, sempre que a direita esteve perto de obter essas maiorias. Está a recriar-se um clima de divisão entre os portugueses, os "bons", da esquerda, claro, e os "maus", da direita, não podia deixar de ser. E para aqueles que ainda não existiam nessa altura, eu recordo daqui. Sabem quem primeiro desde o século passado dividiu os Portugueses nessas categorias? Foi António de Oliveira Salazar, quando definiu os que estavam contra a sua "situação"(assim se chamava no vulgo o Estado Novo), como comunistas, englobando nesse saco toda a oposição, compreendida naturalmente por comunistas, mas também republicanos, socialistas, democratas cristãos, etc. É a velha teoria do preto e do branco políticos, que nada tem a ver com o mundo de hoje. Tal como os velhos conceitos de direita e esquerda.
OBS. Publicado no jornal Público, na sua edição de 22/1/16.
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