DA
COMPLEXIDADE DO SER HUMANO
Ah, tantos
humanistas que conheci! O humanista radical é amigo especialmente dos funcionários;
o humanista dito de “esquerda” tem como preocupação principal a de conservar os
valores humanos; não adere a nenhum partido para não traír o humano, mas as
suas simpatias vão para os humildes. Em geral é viúvo e tem uns olhos sempre húmidos
de lágrimas: nos aniversários chora; gosta também de gatos e cães.
O comunista
gosta dos homens desde o segundo plano quinquenal: castiga porque ama; pudico,
como todos os fortes, sabe esconder os seus sentimentos, mas sabe também, com
um olhar, com uma inflexão da voz, fazer pressentir por trás das suas rudes
palavras de justiceiro uma paixão ríspida e doce pelos seus irmãos.
O humanista
católico, o que chegou atrasado, o benjamim, fala dos homens com um ar
maravilhado. “Que belo conto de fadas” -diz ele- que é a vida mais humilde, a
dum estivador, de uma operária que passa a vida a pespontar calçado!” Escolheu
o humanismo dos anjos; escreve, para edificação dos anjos, longos romances
tristes e belos.
São estes os
papeis grandes, os principais; mas há outros, uma quantidade de outros: o filósofo
humanista, que olha pelos seus irmãos como um irmão mais velho e que tem o
sentido das responsabilidades: o humanista que ama os homens tais quais são; o
que os ama tais como deviam ser; o que quer salvá-los com o seu consentimento,
e o que decide salvá-los mesmo contra vontade deles; o que tenta criar mitos
novos, e o que se contenta com os antigos; o que, no homem, ama a sua morte; o
que, no homem, ama a sua vida; o humanista alegre, que traz sempre uma graça
engatilhada; o humanista sombrio, que se encontra sobretudo em velórios. Odeiam-se
todos uns aos outros: como indivíduos, evidentemente, não como homens.
NOTA – Texto
respigado da obra de Jean-Paul Sartre – A NÁUSEA – transcrito
por Amândio
G. Martins
Jean-Paul Sartre é um exemplo de integridade cívica e de sabedoria humana. Ao recusar o prémio Nobel não só deu uma lição de despojo material como de superioridade cívica. O nosso filósofo Agostinho da Silva, um pouco na sua esteira, também recusou a comenda da Ordem Liberdade imposta pela presidência da República. São pensadores desta estirpe que deviam ser estudados permanentemente, e seguidos, para se construir um mundo melhor.
ResponderEliminarMas quem fala do nosso Agostinho da Silva? Milhões de portugueses nunca ouviram falar dele. Mas milhões pensam que sabem quem é o Marcelo Rebelo de Sousa e quejandos!
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