domingo, 5 de julho de 2015

Euro, que futuro?


Realmente se a coisa não fosse tão séria até dava vontade rir:
Ver o dr cavaco Silva revelar perante as câmaras de televisão um absoluto domínio da “Tabuada do Ratinho” e a sair-se com uma admirável pérola, exemplar do pensamento infantil da direita talibã portuguesa:
         “O euro tem 19 membros, se a Grécia sair ainda ficam 18 países”, disse sem se rir o senhor presidente do alto da sua elevadíssima cátedra.
As contas básicas de subtrair até batem certo, mas o que o dr Cavaco não disse foi que se a Grécia sair da zona euro, será o início, será o princípio do fim do fracasso de uma moeda única federalista numa Europa que abomina o federalismo.
O referendo na Grécia não é uma simples consulta popular sobre mais um desgraçado resgate de agiotagem financeira.
O referendo na Grécia é um veredicto sobre as políticas de austeridade sem fim que destroem os fundamentos de democracia e solidariedade da União Europeia, que o directório alemão impõe à Europa, através de Schauble, ministro de Merkel que é uma reencarnação sinistra do bombista dr Estranho Amor do famoso filme de Kubrick.
         É este fundamentalismo ideológico do pensamento único neoliberal que não respeita a legítima vontade do povo grego em escolher por quem quer ser governado, é este fanatismo míope autofágico que nega as noções mais elementares de sobrevivência do sistema de que se alimenta, que vai levar à queda e ao fim da euro.
         É este fundamentalismo justiceiro de alemães e vassalos, género “dura lex sad lex”, que vai levar à brutal consequência do desmantelamento da União Europeia e colocar em risco 70 anos de paz na Europa, mitigados pelo conflito nacionalista que levou a guerra aos Balcãs.
         Dos Estados Unidos, da Rússia, da China chegam repetidos apelos ao bom senso e a uma séria negociação, mas o presente e o futuro da Europa está nas mãos de uma Alemanha guiada por um (mau) coração antigo.


Carlos Pernes
(Samora Correia, 30/6/2015)

5 comentários:

  1. A criação da UE partiu do voluntarismo de algumas personalidades que queriam ficar ligadas a algo de importante para a vida das nações. Ligo, num egocentrismo bacoco, os povos foram ignorados, e foram as cúpulas que que formalizaram os acordos, sem que o povo de cada país se pudesse pronunciar. Criaram-se supimpos lugares e postos supranacionais, pagos principescamente com os impostos, alguns abusivamente, cobrados à generalidade dos contribuintes. Nessa caldeirada faltou o tempero da solidariedade verdadeira. Deram-se apoios parciais para obras a realizar, sendo da responsabilidade de quem os recebeu uma parte perdida e outra concedida por crédito. Normalmente os apoios foram para estruturas, como estradas ou linhas férreas, mas nunca para o desenvolvimento de indústrias pesadas, estaleiros navais ou outros que concorressem com os países instalados nessa área. A parte em dívida foi gerando uma dívida cada vez maior por somatório de juros. Os credores, através de programas impostos, passaram a governar os países em crise, não para que estes melhorem as condições de vida dos seus habitantes, mas para que alimentem os usurários que emprestaram dinheiro para obras não rentáveis e, por isso, impagáveis. Entretanto, como a ganância e o egocentrismo estão implantados em muitos canteiros deste enorme jardim, as maiorias que tem a barriga cheia à conta do sistema, ou muitos que esperam vir a enchê-la, acham que quem tem dívidas tem de as pagar, mesmo que morra de fome para o conseguir. Os do dinheiro é que não podem perder, porque sendo o dinheiro venerado como um Deus, seria heresia não pagar. É o mundo que temos, e é nele que temos de viver, até que esta civilização estoire.

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  2. No segundo parágrafo, onde digo "Ligo", quero dizer Logo. Apresento as minhas desculpas porque as pressas, às vezes, dão estes erros. Há outra pequenas falhas, mas no essencial a "coisa" percebe-se.

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  3. Ao ler o artigo do senhor Carlos Pernes, não poderia ficar calado. Daí começar por lhe dar os meus parabéns pela lucidês da sua análise a respeito da tragédia ( o termo é meu) grega, que na minha opinião também é nossa. Por isso subscrevo em pleno o seu texto. Enfim, é o mundo que temos, (dirão alguns) mas se pensarmos que ele não presta, então há que combatê-lo. Mais uma vez, obrigado caro Carlos Pernes pela importância do que escreve.

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  4. É preciso não deixar subentendidos e perceber as frases no seu significado total. Dizer que esta civilização estoira não é estar de acordo com ela. Pelo contrário, pode ser entendido, como uma posição de luta para que ela, tal como está, estoire.

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    1. Viva caro Joaquim , obrigado pelo esclarecimento, mas de facto ( talvez por deficiência minha) eu pareceu-me que o termo " esperar até que esta civilização estoire " poderia querer dizer não há nada a fazer. Mas também não disse, que o amigo estava de acordo com o sistema. Por outro lado , há muita gente (como saberá) que diz estar contra qualquer coisa, mas que na prática não mexe uma palha para alterar essa situação (presumo que não será, é claro, o seu caso ) . Dada esta explicação da minha pessoa e o seu esclarecimento,julgo estarmos ambos esclarecidos e assim encerrado o assunto. Mais uma vez, o meu obrigado pela sua compreensão, e até a correcção com que tratou comigo este assunto. Tenha uma boa noite.

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