Jean-Claude Juncker veio lembrar que a Zona Euro é
composta pela democracia grega e outras 18 democracias. Uma espécie de 18+1=19
que permitiu ao presidente da Comissão Europeia fazer pedagogia sobre os
problemas económicos que afligem tanta gente por essa Europa fora. Afirmou
ainda que acredita na possibilidade de se encontrar uma solução na casa da democracia
europeia, em Estrasburgo.
Decerto que, quando estabeleceu acordos secretos com
40 multinacionais, oferecendo-lhes acordos fiscais extraordinários, lixando bem
lixados os restantes parceiros europeus, este nosso guardião não reuniu na casa
da democracia. Quanto dinheiro das dívidas soberanas andará por aí espalhado em
negociatas deste calibre ou arrecadado em off-shores manhosos? O que lucraram os
povos de Portugal, da Grécia ou da Irlanda com o endividamento brutal das suas
economias?
Olho para aquelas reuniões de ministros na casa da
democracia, acompanhados dos seus assessores, conduzidos pelos seus motoristas,
alojados em belos hotéis, a manjar em restaurantes de luxo … como podem ser estes
gajos a reflectir sobre a melhor forma de acudir aos que têm fome? Temo que
estejam mais preocupados em alimentar aquela corte faustosa do que em pensar
como se resolvem os problemas dos pobrezinhos.
Dizem-nos que andámos a viver acima das nossas possibilidades
e, por isso, contraímos uma dívida que levaremos décadas a pagar. As operações
financeiras são tão complexas, tão difíceis de compreender, que a maioria das
pessoas não percebe nada. Pagamos mais impostos, trabalhamos mais e temos piores
hospitais, piores escolas, piores serviços e os desequilíbrios sociais
acentuam-se a olhos vistos. Uma parte considerável do produto do nosso trabalho
esvai-se no pagamento da dívida e reverte a favor de quê? A favor de quem? Em
que é aplicado o dinheirinho que andamos a pagar tão religiosamente?
Aqui há uns anos atrás falou-se de pós-democracia,
um sistema político em que a democracia representativa fica cativa de elites
não sujeitas a sufrágio que se representam exclusivamente a si próprias. Depois,
a discussão sobre esse admirável mundo novo que andaria a ser construído à
nossa volta, esmoreceu e caiu no esquecimento. Olha-se para a paisagem actual
da União Europeia e… se não é exactamente isto que se está a passar, não sei o que
seja, caraças!
Jean-Claude Juncker deveria ter a hombridade de admitir
que Estrasburgo é a casa da pós-democracia europeia. Podemos ser pelintras mas
não somos burros!
Com pigmeus a governar pessoas normais esta civilização está a caminho do fim. Porque o problema não é o do tamanho do corpo, é o do tamanho do cérebro. A vulgaridade ascendeu ao cúmulo. Agora é esperar pelo deserto, porque o desastre é eminente. Uma nova organização social tem de substituir a actual, porque a ganância não pode ser moeda corrente.
ResponderEliminarTodas as coisas obedecem a um ciclo que compreende um tempo para nascer, outro para crescer e, finalmente, um tempo para morrer. A extensão deste ciclo é muito variável. Estaremos nós a observar o tempo para morrer da União Europeia?
ResponderEliminarA falta de valores, como os de agora, ainda pode ser mais letal: até uma guerra mundial pode eclodir.
ResponderEliminarPublicado, hoje, no Público, o que prova que o jornal está atento e sabe seleccionar os conteúdos. Bem redigido, bem observado e bem a propósito. Mais uma vez, Parabéns!
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