A campanha eleitoral em curso está a confirmar que o dr Passos é a reencarnação do conde d’Abranhos do Eça.
A mistificação das estatísticas, a austeridade para além a troika que atrasaram Portugal 15 anos, as trombetas que ecoam o excelente desempenho do governo que continua a renegar o brutal saque fiscal, as falinhas mansas e os demagógicos apelos ao consenso para a segurança social de quem nos últimos quatro anos não quis consenso com ninguém, a absoluta ignorância quando fala em pagamento antecipado ao FMI, quando se trata da amortização de dívida pública comum, são alguns dos exemplos que atestam a reencarnação do conde mais famoso do admirável escritor.
“O conde d’Abranhos” é uma genial e mordaz ironia à ignorância e à hipocrisia dominante na política, nos finais do século 19.
O narrador, o secretário pessoal Zagalo, que serviu o conde durante 15 anos conta que este ficou célebre com a tirada na Câmara dos Deputados, sobre Moçambique: “Que ficava a ocidente de África”. Corrigido, saiu-lhe esta brilhante subtileza, “a ocidente ou oriente, a latitude não altera a substância e a justeza das minhas propostas”.
Contemporâneo da revolução de Maria da Fonte, o Conde d’Abranhos comparou o povo a um elefante e o elefante a uma criança e saiu-lhe esta iluminada pérola: “Para que há-de ser combatido um monstro invencível se é tão simples iludi-lo”, e acrescentou ”os governos democráticos conseguem tudo, com mais segurança e admiração da plebe, dizendo com doçura, por aqui se fazem favor, acreditem que é o bom caminho, assim o povo amolece na indiferença e assim podemos exercer a soberania em proveito próprio”.
Na campanha eleitoral o dr Passos que tem fugido ao contacto com os eleitores como o diabo foge da cruz, tem evidenciado um estilo de política a metro, onde continua a omitir o desespero de um milhão de desempregados e a eliminar esperança do regresso de 400 mil emigrantes a quem aconselhou a sair da zona de conforto.
Sem programa para recuperar o país do buraco económico e financeiro onde o meteu, persiste no sacudir da água do capote com os lesados do BES, quer continuar a navegar à deriva, sem rumo e sem bússola, um mar de austeridade sem fim e a falar de um Portugal virtual, que só existe nos seus jogos neoliberais de playstation.
A campanha eleitoral está a confirmar em absoluto que o conde d’Abranhos do Eça reencarnou no dr. Passos.
Carlos Pernes
Por detrás de todo o político de direita, como de todo o potentado capitalista - vide o último escândalo na "rigorosa" Alemanha - há sempre encoberta uma grande montureira de esterco, que, quando menos o esperam, vem a ser destapada. É que a falcatrua permanente é a sua forma natural de estar.
ResponderEliminarSomos, cada um à sua maneira, a amálgama de muito do Mal que nos apoquenta.
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