domingo, 13 de setembro de 2015

ZOO HUMANO

                                 CASA DE BICHOS…
Quando as pressões da vida moderna se tornam mais pesadas, o atormentado habitante da cidade costuma apelidar o seu mundo pululante de “selva de betão”. Trata-se de uma forma colorida de descrever o tipo de vida numa densa comunidade humana, mas o termo é impróprio, como confirmará qualquer pessoa que tenha estudado uma verdadeira selva.
Em condições normais, nos seus habitats naturais, os animais à solta não se automotilam, não batem nos filhos, não desenvolvem úlceras do estômago, não sofrem de obesidade, não formam acasalamentos homossexuais nem cometem assassínios, e tudo isto se passa entre os habitantes humanos da cidade. Revelará isto que existem diferenças básicas entre a espécie humana e os outros animais?
Assim parece, à primeira vista, mas é engano.Os outros animais comportam-se da mesma forma, quando mantidos em condições de cativeiro. O animal enjaulado num recinto zoológico manifesta todas estas anomalias, que nós conhecemos tão bem, de as vermos nos nossos companheiros humanos.
Não devemos comparar os habitantes da cidade com o animal selvagem, mas com o animal cativo. O bicho-homem moderno já não vive em condições que possam considerar-se normais para a sua espécie. Aprisionado pela sua própria habilidade cerebral, acabou por se instalar numa enorme e irrequieta casa de bichos, onde corre constantemente o risco de estoirar sob a pressão.
Mas o mundo antropológico, como um gigantesco progenitor, protege os seus reclusos. Há condições mínimas de vida e tempo para esbanjar. A maneira como esse tempo é utilizado num recinto zoológico varia de espécie para espécie.Possuidor de um cérebro  explorador e inventivo, o homem não é capaz de descansar por muito tempo, mas, no fim de contas, ficará cada vez mais enterrado e cativo no mundo antropológico.
A história do homem moderno é a história da sua luta para enfrentar as consequências deste progresso difícil. Talvez tudo se torne mais claro se o encararmos do ponto de vista zoológico. No decurso do nosso implacável progresso social temos desenvolvido os nossos poderosos instintos exploratórios e inventivos, que são a base da nossa herança biológica, nada tendo de artificial ou antinatural.
O que eu tento mostrar é que somos forçados a pagar um preço cada vez mais alto para satisfazer estes instintos e descrever as formas que cogitamos para pagar tal preço, por mais exorbitante que seja. As paradas aumentam a toda a hora, mas, apesar dos riscos, nunca o mundo viu jogo mais excitante. Se conseguirmos compreender a sua verdadeira natureza evitaremos torná-lo mais perigoso para a espécie inteira.

NOTA – Este texto foi compilado do livro “Zoo Humano”, de Desmond Morris, “Europa América”, transcrito por Amândio G. Martins.




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