quinta-feira, 24 de setembro de 2015

OS MUROS CONTÊM DE FORA PARA DENTRO, OU DE DENTRO PARA FORA?

Estou muito contente e aliviado por a Hungria ter construído um muro a envolver todo ou quase todo, o seu perímetro.
Contente por mim que assim não volto lá tão cedo: sou meridional e o tom da minha pele saudavelmente bronzeada poderia trazer dissabores, apesar do bilhete de identidade identificar-me como europeu, cristão crismado e cumpridor das obrigações comunitárias.
 Contente porque os habitantes locais com mau feitio e ideias enviesadas, não vão poder sair desse sítio maravilhoso, de boa vizinhança, e invadir a minha privacidade visitando-me sem que os tenha convidado.
Contente porque o meu governo vai receber setenta milhões de euros para alimentar e cuidar umas migalhas de milhares de refugiados que andaram não sei quantos meses a calcorrearem não sei quantos de milhares de quilómetros para acabarem num sítio sem dúvida lindo e solarengo, mas igualmente mal avizinhado de gentes apáticas e sonsas e líderes finórios.
A primeira coisa que eles vão fazer quanto chegarem é começar a organizar a sua nova fuga (vão ver que ainda vamos ter muros de arame farpado na fronteira com a Espanha)
 Aliviado porque os refugiados que não são emigrantes por capricho mas por necessidade de sobrevivência, já não podem lá entrar e poupam-se a aguentar a última dose de vexame depois das aventuras divertidíssimas que viveram no longo passeio que fizeram com os amigos, desde que saíram dos esplêndidos e arejados apartamentos onde viviam, com vista para ruínas clássicas, antes de se lhes ter dado o capricho, de se porem todos a caminho.
Aliviado porque as autoridades húngaras contêm assim as hordas bárbaras, facínoras, assassinos terroristas do estado islâmico, que a coberto do disfarce de pobres e ingénuas criancinhas que fingem que choram e que estão esfomeadas de pão e de ternura, pretendem vir a semear o terror e o caos neste nosso paraíso europeu, fraterno, igualitário e absurdamente livre.
Agradeço muito ao governo húngaro o facto de nos dar o gosto de pertencerem à nossa bela união europeia e ao facto de serem agora os guardiões da nossa fronteira democrática.
Envio o meu voto de apreço e muita – mesmo muita – compreensão, ao povo que os elegeu, que ou se enganou ou estava bastante distraído.
Despeço-me desejando augúrios aos líderes europeus e aos motoristas que os transportam do aeroporto a caminho das suas reuniões de consenso no palácio da Europa em Bruxelas, pelos conselhos e confidências (dos motoristas), que eles depois seguem fielmente (os líderes) e a seguir dá no que tem dado.

Lá para Dezembro, vamos ter fotografias belíssimas de criancinhas todas congeladas e hirtas, algures numa planície qualquer, em trânsito para o paraíso. 

1 comentário:

  1. Dois internos de um manicómio observavam a rua de um mirante que tinham na vedação. Dois sujeitos que passavam saudaram-nos, o que os encorajou a perguntar-lhes: "E vocês aí dentro, são muitos ?

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