No próximo dia 4 de Outubro, o povo português vai ser o juiz que vai presidir ao julgamento dos responsáveis pelo "crime de empobrecimento ilícito", cujas vítimas foram as populações que vivem a leste da A1 e que foram privadas dos mais elementares direitos de cidadania, em clara violação do preceituado na nossa Constituição.
Nós já sabemos como funciona a Justiça portuguesa pelo que não é de estranhar que o juiz popular acabe, também ele e mais uma vez, por absolver nas urnas os responsáveis por um dos crimes mais hediondos que foram cometidos pela democracia portuguesa: a redução de Portugal à Cidade Estado Lisboa-Porto.
Actualmente, quem vive a leste da A1 já não tem sequer direito a voto. O direito a voto, ou seja, o direito a decidir é um direito exclusivo dos residentes nos seis bairros da Cidade Estado Lisboa-Porto, a saber: distritos de Setúbal, Lisboa, Leiria, Aveiro, Porto e Braga.
Com efeito, a maior extensão de território português apenas elege uma pequena minoria de deputados que vai paulatinamente sendo cada vez mais reduzida, à medida que o Governo da Cidade Estado vai pondo em prática as suas políticas cada vez mais agressivas de desertificação do território. Em Portugal, o crime compensa. Neste momento, só o distrito de Lisboa já elege o dobro dos deputados dos distritos de Beja, Évora, Portalegre, Castelo Branco, Guarda, Bragança e Vila Real juntos. E, como se isto não bastasse, a maioria dos cabeças de lista elegíveis pelos distritos do interior ainda são residentes na Cidade Estado Lisboa-Porto, apenas se lembrando do sítio onde nasceram ou onde nasceu a sua avozinha no momento em que são nomeados pelo partido para encabeçar a lista.
Nos últimos vinte anos, nunca é demais repetir, PS e PSD, sempre que são governo, têm tratado as populações a leste da A1 abaixo de cão. Veremos, nestas eleições, de que raça é o cão, se é de abanar a cauda e lamber a mão de quem o maltrata, se é de rosnar e morder.
Diga-se, desde já, que também não concordo com o discurso paroquial de certos candidatos que querem ser deputados para defender a sua terrinha. A função do deputado é defender o interesse nacional e não ser o deputado do queijo limiano, do porco alentejano ou da palha de Abrantes. E, numa verdadeira democracia, o interesse nacional deve passar pela defesa intransigente dos valores sagrados inscritos na nossa Constituição, designadamente, "promover a igualdade real entre os portugueses (...) e o desenvolvimento harmonioso de todo o território nacional" (artigo 9º e 90º), incumbindo-lhe prioritariamente "orientar o desenvolvimento económico e social no sentido de um crescimento equilibrado de todos os sectores e regiões e eliminar progressivamente as diferenças económicas e sociais entre a cidade e o campo." (artigo 81º/e).
Tenho, no entanto, a perfeita consciência de que o povo português, que tanto critica a nossa justiça, vai absolver nas urnas os responsáveis pelo crime mais hediondo cometido contra Portugal e uma parte muito significativa da sua população: o crime de empobrecimento ilícito. Ou seja, o mesmo povo, que tanto reclama por mão pesada da justiça na condenação dos criminosos, é o mesmo povo que vai absolver nas urnas os responsáveis por tão hediondo crime.
"Os nossos representantes eleitos sabem cada vez menos acerca da miríade de medidas sobre as quais têm de decidir e são obrigados a depender cada vez mais do critério de outros. O nosso representante já nem sequer se representa a si mesmo". Alvin Toffler in "A Terceira Vaga"
ResponderEliminarExcelente! Amigo Santana-Maia. Bem-vindo!
ResponderEliminarMas que belo artigo de opinião do sr. Santana-Maia Leonardo, subscrevo-o por completo. Infelizmente o "bom povo português " vai continuar
ResponderEliminara votar útil, mas essa utilidade não é para si, mas para aqueles que o têm empobrecido ( no PS, ou no PSD/CDS).Parabéns ao sr. Santana-Maia Leonardo e também eu lhe dou as boas vindas.