sexta-feira, 11 de setembro de 2015

O crime de empobrecimento ilícito

Santana-Maia Leonardo - Público de 7-9-2015
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No próximo dia 4 de Outubro, o povo português vai ser o juiz que vai presidir ao julgamento dos responsáveis pelo "crime de empobrecimento ilícito", cujas vítimas foram as populações que vivem a leste da A1 e que foram privadas dos mais elementares direitos de cidadania, em clara violação do preceituado na nossa Constituição.
Nós já sabemos como funciona a Justiça portuguesa pelo que não é de estranhar que o juiz popular acabe, também ele e mais uma vez, por absolver nas urnas os responsáveis por um dos crimes mais hediondos que foram cometidos pela democracia portuguesa: a redução de Portugal à Cidade Estado Lisboa-Porto.
Actualmente, quem vive a leste da A1 já não tem sequer direito a voto. O direito a voto, ou seja, o direito a decidir é um direito exclusivo dos residentes nos seis bairros da Cidade Estado Lisboa-Porto, a saber: distritos de Setúbal, Lisboa, Leiria, Aveiro, Porto e Braga.
Com efeito, a maior extensão de território português apenas elege uma pequena minoria de deputados que vai paulatinamente sendo cada vez mais reduzida, à medida que o Governo da Cidade Estado vai pondo em prática as suas políticas cada vez mais agressivas de desertificação do território. Em Portugal, o crime compensa. Neste momento, só o distrito de Lisboa já elege o dobro dos deputados dos distritos de Beja, Évora, Portalegre, Castelo Branco, Guarda, Bragança e Vila Real juntos. E, como se isto não bastasse, a maioria dos cabeças de lista elegíveis pelos distritos do interior ainda são residentes na Cidade Estado Lisboa-Porto, apenas se lembrando do sítio onde nasceram ou onde nasceu a sua avozinha no momento em que são nomeados pelo partido para encabeçar a lista.
Nos últimos vinte anos, nunca é demais repetir, PS e PSD, sempre que são governo, têm tratado as populações a leste da A1 abaixo de cão. Veremos, nestas eleições, de que raça é o cão, se é de abanar a cauda e lamber a mão de quem o maltrata, se é de rosnar e morder.
Diga-se, desde já, que também não concordo com o discurso paroquial de certos candidatos que querem ser deputados para defender a sua terrinha. A função do deputado é defender o interesse nacional e não ser o deputado do queijo limiano, do porco alentejano ou da palha de Abrantes. E, numa verdadeira democracia, o interesse nacional deve passar pela defesa intransigente dos valores sagrados inscritos na nossa Constituição, designadamente, "promover a igualdade real entre os portugueses (...) e o desenvolvimento harmonioso de todo o território nacional" (artigo 9º e 90º), incumbindo-lhe prioritariamente "orientar o desenvolvimento económico e social no sentido de um crescimento equilibrado de todos os sectores e regiões e eliminar progressivamente as diferenças económicas e sociais entre a cidade e o campo." (artigo 81º/e).
Tenho, no entanto, a perfeita consciência de que o povo português, que tanto critica a nossa justiça, vai absolver nas urnas os responsáveis pelo crime mais hediondo cometido contra Portugal e uma parte muito significativa da sua população: o crime de empobrecimento ilícito. Ou seja, o mesmo povo, que tanto reclama por mão pesada da justiça na condenação dos criminosos, é o mesmo povo que vai absolver nas urnas os responsáveis por tão hediondo crime.

3 comentários:

  1. "Os nossos representantes eleitos sabem cada vez menos acerca da miríade de medidas sobre as quais têm de decidir e são obrigados a depender cada vez mais do critério de outros. O nosso representante já nem sequer se representa a si mesmo". Alvin Toffler in "A Terceira Vaga"

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  2. Mas que belo artigo de opinião do sr. Santana-Maia Leonardo, subscrevo-o por completo. Infelizmente o "bom povo português " vai continuar
    a votar útil, mas essa utilidade não é para si, mas para aqueles que o têm empobrecido ( no PS, ou no PSD/CDS).Parabéns ao sr. Santana-Maia Leonardo e também eu lhe dou as boas vindas.

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