domingo, 27 de setembro de 2015

Portas, Calígula e Salazar

Vasco Pulido Valente é homem de bengaladas. Distribui regularmente bordoadas às sextas, sábados e domingos nas páginas do Público, naquele seu estilo blasé iluminado o que, na maior parte dos textos, até é divertido, por vezes enfadonho.


No último domingo, analisando o comportamento dos putativos candidatos a primeiro-ministro, desfere umas quantas estocadas em António Costa fazendo humor com o facto de este ter desenterrado a questão dos submarinos afirmando que é caso com 20 anos e, como tal, tão digno de “desenterranço” como “os crimes de Calígula ou os pecados de Salazar”. Fiquei a matutar no assunto. 

Uma verificação rápida indica que a aquisição de dois submarinos da classe Tridente foi realizada em 2004 pelo XV Governo Constitucional de Portugal que tinha como líder Durão Barroso e Paulo Portas na qualidade de ministro de estado e da defesa nacional. Ora, como é fácil verificar, não passaram 20 anos sobre este negócio mal explicado e com contornos obscuros que põem em causa a honestidade institucional dos envolvidos. Não sei o que terá levado Pulido Valente a lembrar-se de Calígula neste contexto, já a referência a Salazar me parece mais compreensível. Seja como for, seria de esperar um pouco mais de rigor nas datas, não fosse Pulido Valente historiador e ensaísta de renome cá na parvónia. Será a passagem do tempo factor higiénico capaz de limpar e redimir toda a porcaria? 

Paulo Portas nunca explicou decentemente o que se passou nesta história nem revelou quem é o tal benemérito misterioso, Jacinto Leite Capelo Rego, entre outros implicados no Caso Portucale. Telmo Correia, Carlos Costa Neves e Luís Nobre Guedes (exemplos de uma aliança PSD/CDS) também enrolam a língua e ficam corados quando se lhes fala do caso; há por ali muita confusão e meias verdades que soam a mentiras completas. Será esse tema deslocado no contexto da campanha eleitoral que agora decorre? Segundo Pulido Valente, que tantas vezes desenterra a história portuguesa do século XIX para nos explicar as suas visões do presente, interessa tanto como os pecados de Salazar. Podemos confiar em Paulo Portas e nos seus rapazes para integrarem um elenco governativo pois o que lá vai, lá vai, irrevogavelmente? Estou confuso. 

Talvez seja tempo de passar a usar a bengala exclusivamente na sua função de terceira perna. Levantá-la pode causar desequilíbrios e vertigens.

Carta enviada à Directora do Público

1 comentário:

  1. Constou que o Portas terá tido uma confissão da sua vida íntima, em sotaque brasileiro, ao homem das finanças do partido, que aproveitou para traduzir a coisa em mais um nome de fictício benemérito...

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