Vasco Pulido
Valente é homem de bengaladas. Distribui regularmente bordoadas às sextas,
sábados e domingos nas páginas do Público, naquele seu estilo blasé iluminado o
que, na maior parte dos textos, até é divertido, por vezes enfadonho.
No último
domingo, analisando o comportamento dos putativos candidatos a
primeiro-ministro, desfere umas quantas estocadas em António Costa fazendo
humor com o facto de este ter desenterrado a questão dos submarinos afirmando
que é caso com 20 anos e, como tal, tão digno de “desenterranço” como “os
crimes de Calígula ou os pecados de Salazar”. Fiquei a matutar no assunto.
Uma
verificação rápida indica que a aquisição de dois submarinos da classe Tridente foi realizada em 2004 pelo XV Governo
Constitucional de Portugal que tinha como líder Durão Barroso e Paulo Portas na
qualidade de ministro de estado e da defesa nacional. Ora, como é fácil
verificar, não passaram 20 anos sobre este negócio mal explicado e com
contornos obscuros que põem em causa a honestidade institucional dos
envolvidos. Não sei o que terá levado Pulido Valente a lembrar-se de Calígula
neste contexto, já a referência a Salazar me parece mais compreensível. Seja
como for, seria de esperar um pouco mais de rigor nas datas, não fosse Pulido
Valente historiador e ensaísta de renome cá na parvónia. Será a passagem do
tempo factor higiénico capaz de limpar e redimir toda a porcaria?
Paulo Portas
nunca explicou decentemente o que se passou nesta história nem revelou quem é o
tal benemérito misterioso, Jacinto Leite Capelo Rego, entre outros implicados no
Caso Portucale. Telmo Correia, Carlos Costa Neves e Luís Nobre Guedes (exemplos
de uma aliança PSD/CDS) também enrolam a língua e ficam corados quando se lhes
fala do caso; há por ali muita confusão e meias verdades que soam a mentiras
completas. Será esse tema deslocado no contexto da campanha eleitoral que agora
decorre? Segundo Pulido Valente, que tantas vezes desenterra a história
portuguesa do século XIX para nos explicar as suas visões do presente, interessa
tanto como os pecados de Salazar. Podemos confiar em Paulo Portas e nos seus
rapazes para integrarem um elenco governativo pois o que lá vai, lá vai,
irrevogavelmente? Estou confuso.
Talvez seja tempo de passar a usar a bengala exclusivamente
na sua função de terceira perna. Levantá-la pode causar desequilíbrios e
vertigens.
Carta enviada à Directora do Público
Constou que o Portas terá tido uma confissão da sua vida íntima, em sotaque brasileiro, ao homem das finanças do partido, que aproveitou para traduzir a coisa em mais um nome de fictício benemérito...
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