A TRISTEZA DOS
PORTUGUESES
De acordo com
um estudo recente, os portugueses são o segundo povo mais triste da Europa. E
parece que, também, dos mais conformistas e arrebanháveis. Não ousam e cumprem
ordens. Estas conclusões não me surpreendem, basta olhar em volta: constituímos
uma procissão de defuntos mentalmente pelintras e tragicamente convencidos das
virtudes do nosso “bom comportamento” – dos nossos caricatos “brandos
costumes”, que, no fim e ao cabo, talvez signifiquem, apenas, astenia, tibieza,
servilismo. É assim que, desde há muito, nos vemos, a nós próprios, e nos
regalamos com centenas de páginas do Eça. É assim que nos julga, agora, um
estudo com chancela científica. Somos um caso perdido ou – como nos “promovia”
Unamuno – um povo de suicídas inconscientes?
As raízes
tocam fundo. Verney e Ribeiro Sanches já o deploravam, há duzentos anos. Sá de
Miranda, há quatrocentos. António Nobre exclamava: “Que desgraça nascer em
Portugal!” E Sá Carneiro suicidava-se, em Paris, aos vinte e seis anos,
desvairado com a perspectiva de ter de regressar. Fernando Pessoa, creio que
viveu sempre dentro de uma garrafa de “Macieira cinco estrelas”para esquecer as
de Lisboa. Camilo estoirava os miolos, exilado em Ceide. Um panorama melancólico
e pouco animador, que alimentou as tais páginas de cáustica ironia queirosiana
e o brutal sarcasmo camiliano. O reflexo de um mundo bota-de-elástico,
estreito, de um eterno “Portugal dos pequeninos”, de gente pacóvia, de gente de
“nem de mais, nem de menos”, encolhida, privada de ousadia. De gente de sonhos
medianos ou que só sonha ser comandada.
As raizes,
fundas, têm um passado próximo: os quarenta e oito anos de Salazarismo –
considerados os quatro marcelistas uma aderência podre – de um governo absoluto
de um medíocre por excelência. Amestrados, há muito propensos ao amestramento,
aguentamos quase meio século. Não se refiram as tendências sanguinárias de
outros povos, porque se referem lugares comuns aldrabões; basta consultar
Oliveira Martins e tomar conhecimento das atrocidades cometidas durante a
guerra civil, que opôs liberais e miguelistas.
Li, há uns
dias, uma excelente reportagem de Patrícia Reis, no Expresso, em que se fala de
aventuras galantes de militares portugueses, na ex-Jugoslávia. O que me
impressionou não foram as façanhas,aliás pacatas, dos “latin lovers” tipo
lusitano; impressionaram-me as reacções das jovens eslavas que, uma vez entre
nós, se repelem e sonham com voltar à terra. Será que isto nunca há-de mudar?
NOTA – Este
texto é de Manuel Poppe e foi publicado há anos no Jornal de Notícias.
Transcrito
por Amândio G. Martins
" Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice."
ResponderEliminarGuerra Junqueiro, in "Pátria", há 119 anos
Mudámos alguma coisa?
Mudou tudo à nossa volta mas, o que mudámos, foi no "Maria-vai-com-as-outras da imbecilidade...
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